Nem o frio abaixo de 10º espantou o público que, desde às 14h, fazia fila em frente à um centro de eventos próximo ao aeroporto de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Caravanas chegavam de todo o Estado. Do lado de fora, milhares de pessoas ouviram sem poder entrar.
O motivo do alvoroço não era não era nenhum banda ou cantor, mas sim o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que escolheu a capital gaúcha como destino inicial de uma série de viagens na companhia de seu vice, o ex-tucano Geraldo Alckmin (PSB).
A segurança foi rígida. Todos os presentes foram revistados, com ajuda de detectores de metais. Não foi permitida a entrada de pessoas com bolsas, exceto profissionais da imprensa. Havia o temor que se repetisse o incidente de 2018, quando a caravana do ex-presidente foi agredida em várias cidades do interior gaúcho. Nas ruas, o numero de carros da Policia Militar estacionado nas esquinas, inclusive no centro da cidade, era muito grande. “Tudo isso é porque o Lula está aqui” disse um motorista.
Desta vez, nada aconteceu. O clima era amistoso e democrático. Tremulavam bandeiras dos partidos coligados com o PT. Pairava, porém, certo temor em relação à recepção que teria Alckmin. Quando seu nome foi anunciado, Lula se apressou em levantar da cadeira aplaudir. Na multidão, um pequeno murmurinho foi logo interrompido pelas palmas.
Líder das pesquisas de intenção de voto, Lula voltou defender do papel do Estado na luta contra a desigualdade. “Eu não tenho medo de dizer: eu não quero um Estado fraco, eu não quero um Estado pequeno, eu não quero um Estado insuficiente”, disse o ex-presidente. “Quero um Estado forte, que seja responsável pela educação, pela saúde, pela geração de emprego, por aumentar o salário mínimo, por dar cidadania aos brasileiros. É esse o Estado que nós vamos fazer.”
Segundo os organizadores, a expectativa de público, calculado pela capacidade oficial de lotação, era de mais de 5 mil pessoas. A casa estava, de fato, lotada. Espremido entre os milhares estava um rapaz chamado Jerônimo, 17 anos. Morador na periferia da capital gaúcha, ele vai votar pela primeira vez. A decisão já está tomada: o primeiro voto será em Lula. A mãe, que trabalha como diarista, foi quem contou ao filho como era o Brasil quando ele nasceu, em 2002.
A vida, conta Jerônimo, anda difícil. Obrigado a abandonar os estudos, ele agora faz bicos para ajudar a família no orçamento. “Fui ler sobre o Lula. Ele também teve uma vida difícil. Eu também só quero ter uma vida melhor, poder estudar e ajudar minha família”. Já passava das 21 horas quando o ex-presidente encerrou o discurso. Jerônimo se emocionou, aplaudiu e, no meio de uma chuva de papel picado, confirmou “é nele mesmo que vou votar”.
Outro que acompanhava os discurso de Lula era Élcio, de 45 anos. Desempregado desde que começou a pandemia, ele era vendedor autônomo. Percorria as cidades da região metropolitana de Porto Alegre com uma moto. “Vendia de tudo. Roupas, doces, brinquedos”, conta ele. Foi obrigado a parar e para sobreviver, vendeu a moto. Quando o dinheiro acabou, Élcio, a mulher e os três filhos ficaram a ver navios. Por isso ele torce pela volta de Lula. Seu sonho é montar um pequeno comércio no bairro onde mora. Élcio ainda se recorda dos tempos que as famílias podiam comprar para comer. “Eu vivi essa fase, mas tudo acabou”, lamentou, em tom nostálgico.