Com o retorno dos anestesistas que tinham paralisado suas atividades há quase um mês, a diretoria do Hospital Walfredo Gurgel, maior hospital público do Rio Grande do Norte, prevê que nesse fim de semana o atendimento deve ser regularizado para que a fila de pacientes à espera de cirurgias em macas pelos corredores se normalize em até um mês. Isso deve ocorrer a partir de uma força-tarefa com o auxílio do Hospital Deoclécio Marques, em Parnamirim, que deve dobrar sua capacidade interna de procedimentos. Os anestesistas prometem cooperar, intensificando o trabalho nos próximos dias.
A paralisação desses profissionais cessou com o pagamento do débito do governo do Estado à Cooperativa do Anestesiologistas do Rio Grande do Norte (Coopanest-RN). De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap/RN), o pagamento foi efetivado na tarde da quinta-feira (12), seguindo o mesmo padrão rotineiro. Foi exigido que os anestesistas retomassem os serviços de maneira urgente e imediata.
“O retorno é imediato e trabalharão em alta produtividade para agilizar as cirurgias. O Hospital Walfredo Gurgel continuou realizando as cirurgias, tendo ficado sem a retaguarda dos hospitais parceiros que atuam com os anestesiologistas da Coopanest, o que ocasionou a superlotação”, explicou o médico Tadeu Alencar, diretor do Walfredo.
Segundo ele, o hospital recebe uma média de 50 a 60 pacientes diários politraumatizados, vindos de acidentes, principalmente de motos. Ontem (13), o pronto-socorro estava com 119 pacientes, sendo 52 no corredor. “A situação é atípica devido à questão da greve dos anestesiologistas. A Sesap tem uma força-tarefa para melhorar os serviços de cirurgias e transferências, tendo ficado com os corredores vazios por vários períodos”, disse.
Apesar de prever que o atendimento vai ser equacionado durante esse final de semana, o prazo para acabar com a demanda reprimida é maior. “A previsão de normalização é de 20 a 30 dias”, avalia o diretor.
O médico Vinícius Luz, presidente da cooperativa dos anestesistas, informou que o retorno foi obedecido. “Desde o final da manhã (de ontem) voltamos às atividades normais. Estamos muito contentes de termos retomado os serviços e podermos voltar a realizar os procedimentos. Os pacientes estavam em uma situação muito ruim desde dezembro sem uma resolução da questão”, disse ele.
Para fazer a fila de procedimentos andar, os anestesistas já concordaram em intensificar o trabalho, ficando disponíveis, seja em forma de mutirão ou escalas ampliadas, para intensificar a realização de procedimentos. “Ficou acordado a disponibilidade de reforço das equipes nos próximos dias, na tentativa de diminuir as filas nos hospitais públicos e conveniados ao SUS”, informou a Coopanest-RN em nota.
Os anestesistas resolveram paralisar o serviço devido o atraso no pagamento de faturas referentes aos meses de julho e agosto de 2022, o que representaria R$ 2.063.559,90 na amortização da dívida; e um débito em torno de R$ 600 mil da Prefeitura do Natal, relacionada à alta e média complexidade, mas já houve acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, de modo que a cooperativa não caracteriza como atraso.
A situação, no entanto, não foi resolvida por completo. De acordo com a entidade, o Governo do Estado pagou a parcela do mês de agosto/2022 que estava prevista para ser quitada até dezembro passado. Falta ainda a parcela do mês de julho/2022, num montante de aproximadamente R$ 1 milhão.
Desde o dia 15 de dezembro, somente os serviços contratados de urgência e emergência estavam sendo realizados, além das escalas de plantão, enquanto que os de procedimentos eletivos ficaram suspensos pela rede pública.
O Sindicado dos Servidores da Saúde (Sindisaúde/RN), classificou a situação como “caótica”, apontando a lotação de pacientes que aguardavam procedimentos de urgência no centro cirúrgico, em macas nos corredores e no pronto-socorro, alguns com mais de 24 horas de espera. A situação chegou a aproximadamente dez pacientes para cada técnico, dificultando um atendimento adequado.
Anestesistas suspenderam eletivas dia 15 de dezembro
A paralisação dos profissionais da Cooperativa do Anestesiologistas do Rio Grande do Norte (Coopanest/RN) começou no dia 15 de dezembro do ano passado. Os anestesiologistas cooperados reivindicavam o pagamento de parcelas em atraso do Governo do Estado e da Prefeitura do Natal.
A Coopanest informou que as parcelas do governo estadual referentes aos meses de julho e agosto, o que representaria R$ 2.063.559,90 na amortização da dívida, estavam atrasadas. Já a Prefeitura do Natal, desde o início da suspensão dos atendimentos, fez dois depósitos no valor total de R$ 1.424.186,67, referentes a dois meses do contrato. Segundo a Coopanest foi deixado em aberto o repasse dos procedimentos de média e alta complexidade, que são de responsabilidade do governo federal no valor de R$ 1.259.392,89.
De acordo com estimativa da cooperativa, a média mensal é de 5,2 mil procedimentos atendidos no contrato. Nas unidades com profissionais da cooperativa, também ficaram suspensos os exames eletivos que necessitam de aplicação de anestesia nos pacientes. Com isso, as filas nas unidades de saúde começaram a crescer com pacientes à espera dos procedimentos. No Hospital Walfredo Gurgel a situação se tornou caótica com pacientes em macas pelos corredores da unidade.
A Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) e o Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel informaram no início da semana que a fila de cirurgias seguia comprometida pela situação junto aos anestesiologistas. A Sesap acertou junto à cooperativa um acordo para a retomada dos serviços, que são operacionalizados através do contrato firmado entre a prefeitura de Natal e os médicos.
A entidade respondeu à proposta condicionando a retomada das atividades ao pagamento da parte do contrato que é operada pela gestão municipal.