O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) reconheceu formalmente as terras do Quilombo Pitanga dos Palmares, na região metropolitana de Salvador. No local viveu a líder quilombola Mãe Bernadete, assassinada em agosto de 2023 na presença dos netos.
“Todos nós aqui da comunidade quilombola sabemos que essa titulação não será a mesma coisa sem a presença de Mãe Bernadete. Ela que lutou a vida inteira, junto com seu filho Binho do Quilombo, ambos assassinados, sempre buscando essa titulação e melhorias para as comunidades quilombolas da Bahia e de todo o Brasil”, disse Pacífico.
A comunidade, que fica entre os municípios de Simões Filho e Candeias, tem 162 habitantes – 150 deles registrados como quilombolas, segundo o Censo de 2022. A ocupação da região foi iniciada no século 19, e já era reconhecida desde 2004 como remanescente de quilombo pela Fundação Cultural Palmares. As famílias que vivem no local subsistem de atividades como agricultura familiar e pesca não predatória.
“Quando a gente fala de titulação de um quilombo, é você prospectar dias melhores, com agricultura familiar, mais educação, mais segurança, mais saúde. Resumindo, a titulação é prosperidade da comunidade”, complementou Jurandir.
A área é alvo de disputas por território ao menos desde a década de 1940, quando houve instalação de oleodutos para transporte de petróleo na região. Nas décadas seguintes, a comunidade foi diretamente afetada por indústrias e pela construção de ferrovias e rodovias.
Mãe Bernadete foi assassinada em 17 de agosto de 2023. De acordo com relatos de familiares, dois homens chegaram de moto ao local e entraram de capacete no terreiro. Quando encontraram a líder quilombola, dispararam diversas vezes, na frente dos três netos. O crime foi gravado pelas câmeras do terreiro. As imagens foram entregues à Polícia Civil.
Depois que passou a receber ameaças de morte, em 2021, Mãe Bernadete mandou instalar câmeras em sua casa e no terreiro. Nos últimos anos de vida, lutou para que os mandantes do assassinato do filho Binho do Quilombo fossem identificados. As mortes podem ter relação com a disputa pela terra.
“(No caso de) Binho do Quilombo, meu irmão que foi assassinado em 2017, existe 100% de impunidade. As evidências estão lá, mas nenhuma atitude é tomada. Desde 2017 impune. E essa impunidade resvalou em minha mãe, infelizmente”, lamentou Jurandir.
Fonte: Brasil de Fato