Toda a arte, força, poesia e política da fotografia potiguar vai estar em exposição na cidade de Fortaleza (CE), a partir deste sábado (14), no Centro Cultural Banco do Nordeste. A exposição The Potiguares, que está dentro da 2ª edição da Maré Foto Festival, é uma mostra coletiva que apresenta 14 artistas que exploram diferentes processos e linguagens visuais.
“Para exposição The Potiguares tem uma importância por circular uma produção na fotografia potiguar que muitas vezes não é vista no circuito nacional de fotografia de artes visuais. Nesse período onde a gente vai estar abrindo a exposição, o Ceará, e Fortaleza especialmente, estará vivendo o Solar Foto Festival, que é um festival de fotografia muito grande, conectado com os equipamentos culturais do Ceará, com uma política pública pensada para esse fortalecimento da fotografia brasileira a partir do Ceará”, João Oliveira, curador.
A proposta da exposição é deixar que as imagens falem por si, revelando narrativas de resistências indígenas, negras e das tradições locais, em um contexto de identidade e memórias que carregam as marcas da colonização holandesa, portuguesa e americana. Os trabalhos apresentados mostram como a fotografia potiguar se transforma em uma plataforma para pensar o presente, revisitar o passado e construir novas perspectivas para o futuro.
“Fazer essa conexão a partir do The Potiguares é mostrar a esse circuito nacional que existe uma produção contemporânea de fotografia que pensa sobre o Rio Grande do Norte, mas que vai muito além disso, que pensa sobre o Brasil, que pensa sobre o mundo, uma produção que reverbera questões da subjetividade e isso vai também acompanhado, de processos artísticos muito profundos, de pesquisas, ou seja, existe uma cena da fotografia no Rio Grande do Norte formada, nesse recorte que a gente escolheu apresentar por trabalhos que, de certa forma, partem dessas relações entre o processo fotográfico, metodologia, um resultado e um diálogo aberto também sobre as questões territórios, de identidade, sobre as questões contemporâneas de gênero, raça e políticas que acontecem no Brasil e no mundo então é uma fotografia contemporânea do seu tempo e não a fotografia local”, resume o curador.
Os visitantes terão a oportunidade de apreciar as obras de André Bezerra, Chrystine Silva, Carol Macedo, Elisa Elsie, Everson de Andrade, Geovana Grunauer, Janderson Azevedo, Jean Lopes, João Oliveira, Max Pereira, Meysa Medeiros, Pablo Pinheiro, Judson Takará e Thales Pessoa. A abertura acontece às 13h, e a visitação é gratuita durante todo o mês de dezembro.
Com o trabalho intitulado “Onde o samba tomou a cidade”, Everson retratou o tradicional samba de Nazaré, no popular Beco da Lama, no centro de Natal, no bairro da Cidade Alta.
“É um trabalho de documentação que eu faço desde 2017. É uma documentação do Samba lá de Nazaré, com Carlinhos Batuque do Povo. Conheci o samba em 2011, na época ainda era Quinta Viva do Samba e desde o começo entendi a importância daquele espaço, daquele movimento, não só para a ocupação da Cidade Alta e daquela região, mas também, vi como movimento de resistência do samba popular, do samba de roda, do samba de rua“, contextualiza Everson de Andrade, fotógrafo.
Outro trabalho potiguar é “Fábrica”, que faz parte do ensaio “O leite do fim”, realizado por Elisa Elsie, que levanta uma série de questionamentos.
“A intenção é trazer para a fotografia diferentes nuances envolvidas na amamentação para mulher e criança numa tentativa de confrontar as representações que normalmente vemos dessa condição da mulher: a de nutriz. Na fotografia Fábrica há um corpo sem rosto, sem nome, sem traços. Um corpo alimento, um corpo teta, um corpo apto para fabricar leite humano. A fotografia reduz o corpo ao peito alimento. A foto mostra exatamente a parte do corpo da mulher que representa essa condição de alimentar a cria, uma intenção consciente de apresentar um corpo fragmentado desconsiderando a integralidade do corpo ausente visualmente na imagem. A fotografia anuncia uma área comumente erotizada do corpo da mulher cuja atribuição natural após gerar e parir uma criança é a de amamentar. Penso nela com a carga elétrica do erótico confrontando a função biológica de produzir leite. O branco da imagem remete a assepsia esperada da mulher que amamenta e à própria cor do leite materno, embora dificilmente vista pelas pessoas, uma vez que a boca infantil normalmente oculta o líquido. Já os tecidos fazem referência ao hábito de algumas mulheres usarem um pano para cobrirem os seios e parte da boca/rosto do bebê/criança enquanto mama“, interpreta Elisa, que é fotógrafa e pesquisadora.
Para o público cearense ou que estiver no Ceará neste mês, será a chance de conhecer a produção fotográfica de um estado vizinho e de valorizar as conexões entre artistas e territórios do Nordeste. Mais do que uma exposição, The Potiguares é encarada como ponto de encontro entre as culturas potiguar e cearense, num diálogo essencial para ampliar a visibilidade e o impacto da arte nordestina no Brasil e no mundo.
“Fiquei bem feliz com o convite para participar da exposição ao lado de artistas potiguares que admiro. A temática da maternidade está no meu repertório há dez anos e ter uma foto que confronta a representação convencional de uma mulher mãe e que tensiona a sobrecarga materna é um acontecimento importante. Quanto mais a gente falar, quanto mais fotografias e obras forem exibidas que tragam o trabalho do cuidado não remunerado com bebês e crianças e que recaem historicamente na conta das mulheres, mais chances a gente tem de visibilizar esse trabalho que exaure mulheres todos os dias e lutar por direitos iguais nos trabalhos domésticos“, acrescenta Elisa.
The Potiguares tem apoio do Ministério da Cultura, Banco do Nordeste e da Lei de Incentivo à Cultura. O Maré Foto Festival 2ª edição é uma produção do Margem Hub, realizado por meio da Lei de Incentivo à cultura, com patrocínio do Banco do Nordeste, e apoio do Governo do Estado do Rio Grande do Norte, Fundação José Augusto, e Secretaria de Estado de Cultura.
Serviço:
Exposição: The Potiguares
Local: Centro Cultural Banco do Nordeste Fortaleza
Abertura: 14 de dezembro de 2024, às 13h
Visitação: Gratuita, durante todo o mês de dezembro de 2024
Curadoria: Paula Lima e João Oliveira