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Ouro Branco

Uma cervejinha, por favor

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– Uma cervejinha, por favor! A mais gelada que tiver. – Disse a professora sentando em um banquinho diante da lanchonete da rodoviária.

O dia tinha sido daquele jeito. Final de ano, sabe como é. Dois turnos. 12 aulas. Intervalos para almoço e uns cafezinhos. Uma pilha de provas na bolsa. Ainda enfrentaria a estrada para voltar para sua casa. Viagem longa para outra cidade. Mais longa ainda quando aos quilômetros se somavam todo o cansaço da semana.

Era sexta-feira. Uma dessas em que ela não iria sextar. Também não iria sabadar. Nem domingar. Trabalhos e provas para corrigir, diários para terminar de preencher. Tentar decifrar algumas letras. Passar horas sentada. Água e cafezinho. Só quando a bexiga apertava e pedia que ela fosse ao banheiro é que se lembrava da hidratação. Na volta, mais uma caneca na mão, fumegante. Garrafinha de água reabastecida.

O primeiro gole da cerveja desceu refrescante, refrescando, fresco como gostaria que fosse aquele fim de tarde escaldante. Não bebeu, sorveu, deliciou-se como se o mais precioso dos néctares a esfriasse por dentro. Os olhos se encheram de lágrimas. Não era tristeza, era satisfação.

Bebendo, seu dia de labuta se desfez. As evidências todas sumiram por um instante. Nem lembrou que era professora, nem que iria passar o final de semana trabalhando. “E final de semana não foi feito pra quem trabalhou a semana inteira poder descansar, não?” – pensou enquanto lia as informações da latinha.

– Outra cerveja, por favor! – pediu novamente, enquanto ouvia a conversa da vendedora com um cliente que já estava por ali quando ela chegara. Falavam sobre homens e mulheres, flertes, casos, namoros e outras safadezas deliciosas.

– Você é professora, né? – perguntou a atendente da lanchonete.

– Sim! – respondeu.

– Tá só viva na sexta, né?

– Ôôôôôôôô!!! – verbalizou enquanto mais um gole descia goela abaixo.

– Que que você acha, professora?! Dá pra confiar em homem?

– HAHAHAHAHAHAHAHA… a resposta foi dada em forma de uma bela de uma gargalhada. – Definitivamente, não!!! Principalmente se for comprometido. São os mais sonsos.

Caíram na gargalhada juntos, pois o cara que já estava por ali, e que provavelmente estava chavecando a moça, também integrou o coro.

– Professora, assim a senhora desmoraliza a classe!!! – disse o rapaz entre risos.

Nesse momento ela e a balconista se entreolharam e caíram na gargalhada novamente.

– Tá vendo! Tudo santo! – HAHAHAHAHAHA… – disse a professora. E dirigindo-se ao rapaz, continuou:

– E você é daqueles que carregam selo do INMETRO de cafajestagem. Conheço pelo cheiro. HAHAHAHAHAHAHA…

Estavam nessa farra, quando o motorista do ônibus buzinou avisando que partiria em breve.

Despedidas feitas. A professora encaminhou-se para o ônibus. Para seu assento. Para seu destino. Na viagem, refrescada pela cerveja e pelas gargalhadas, adormeceu… Sonhou que sextava, que sabadava. Viu-se tomando banho de açude, sereiando. Tomando uma cervejinha geladíssima, enquanto seu corpo se espichava ao sol do Seridó.

Não estava só, brindava com alguém. Sim, era um cafajeste, daqueles com selo do INMETRO. Sonso! A cerveja que eles bebiam estava estupidamente gelada. Já os olhares e os beijos os aqueciam feito brasa. Mergulhos e brincadeiras aquáticas. Corpos grudados, bocas grudadas… O açude era testemunha de sua exuberante liberdade. Do seu tesão explosivo. De sua alegria incontida…

Por mais alguns instantes esqueceu dos/as estudantes. Esqueceu das provas. Esqueceu das obrigações. Por alguns instantes ela só gozava, com gosto de cerveja e com uma língua quente que a invadia, enquanto aflorava imersa à gigantesca imensidão de água doce onde se banhava. Doce como a vida deveria ser!

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