O prédio em que funcionou o antigo Cine Panorama, no bairro das Rocas, Zona Leste de Natal, vai ser recuperado e voltar a ser um cinema público e de rua, por iniciativa do Governo do Rio Grande do Norte.
Atualmente, o prédio passa por dois processos distintos: um de desapropriação do imóvel para a instalação do Cinema Público do Estado do Rio Grande do Norte e outro de tombamento. No caso do primeiro, o processo da desapropriação vai ser encaminhado para a Procuradoria Geral do Estado (PGE) depositar o valor em juízo para os proprietários, num valor calculado em R$ 935 mil e, até janeiro, o trâmite deve ser concluído.
Para o tombamento — reconhecendo a importância histórica do lugar para o estado — ele passou nesta terça (17) pela última fase, que foi a votação pelo Conselho Estadual de Cultura e agora segue para a secretária estadual de Cultura, Mary Land Brito, assinar e sancionar.
Os recursos virão do governo federal, por meio do Programa Nacional Aldir Blanc (PNAB), que atende às políticas estruturantes.
“No ano que vem, com os recursos da PNAB, a gente entra no processo de reforma e aquisição de equipamentos que a gente ou vai fazer com recursos da PNAB, ou com emendas da deputada Natália Bonavides, que já se colocou à disposição para uma emenda para adquirir os equipamentos da sala de cinema”, explica a secretária de Cultura.
Mary Land Brito diz que a fase inicial para desapropriação e tombamento começou ainda em setembro de 2023. Ela comemora o andamento e pontua as diferenças entre ter um cinema de rua e os cinemas de shopping.
“Historicamente, a gente não recebe em Natal e no Rio Grande do Norte filmes que façam parte do circuito B, do circuito de filmes de arte, de filmes universitários, filmes temáticos, mostras temáticas, festivais temáticos, pela falta de um cinema não comercial”, afirma.
“Então, a gente está dando à nossa população a chance de ter acesso a um circuito diferenciado cinematográfico. Além de toda essa produção que está sendo feita agora com o recurso da (Lei) Paula Gustavo, ter um lugar qualificado para exibir. E é importante lembrar que essa sala foi algo que a gente correu muito para que desse certo. Não foi fácil”, conta.
“Mas a gente teve essa força porque viu o clamor da sociedade por uma sala de cinema. A gente tem abaixo-assinados da sociedade pedindo sala de cinema. A gente tem o projeto ‘Aqui já existiu um cinema’ identificando locais que tiveram cinema para tentar reaver o cinema. Quando a gente trouxe essa questão do tombamento, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Norte também emitiu uma nota manifestando um parecer favorável ao tombamento, à recuperação da sala. Então, além dos documentos obrigatórios do Conselho de Patrimônio do Estado e do Conselho de Cultura do Estado, a gente acabou tendo outros documentos também manifestando a favor disso, porque a sociedade entende a importância desse espaço cultural. Então, é algo que a gente está fazendo em conformidade a um desejo coletivo”, diz a secretária de Cultura do RN.
O projeto “Aqui já existiu um cinema”, citada por Mary Land, nasceu do Trabalho de Conclusão de Curso em Arquitetura e Urbanismo de Wire Lima e foi uma dessas iniciativas que deram destaque ao Cine Panorama, resgatando a memória dos antigos cinemas de rua da capital potiguar.
“Um ano atrás a gente estava lá dentro, observando o mundo que ainda existia lá no cinema. As cadeiras intactas, a cabine de projeção. A gente tinha esse sonho utópico de um dia isso poder virar alguma coisa, e quando a gente publicou as imagens, muita gente compartilhou, muita gente ficou impressionada também com a existência dessa relíquia que permanece quase intacta, mas que estava numa situação de abandono, sem uso”, fala Wire Lima.
Em nota, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Norte (CAU/RN) parabenizou a iniciativa do Conselho de Cultura do RN e disse que o prédio do Cine Panorama é um dos mais importantes ícones do patrimônio arquitetônico histórico potiguar.
“Essa iniciativa do Conselho de Cultura se soma às ações realizadas pelo CAU/RN, que recentemente percorreu as ruas do centro histórico de Natal, destacando edifícios emblemáticos que abrigaram importantes cinemas da cidade. Durante esse percurso, foram ressaltados os valores históricos, arquitetônicos e culturais desses prédios, reforçando a necessidade de medidas urgentes para sua preservação e valorizando seu papel na formação cultural de gerações”, informou o CAU.
Segundo o CAU, a valorização do Cine Panorama, assim como de outros cinemas históricos da cidade, reforça a urgência de medidas de preservação para que as futuras gerações possam continuar a vivenciar e compreender a história de Natal por meio de sua arquitetura.
“O CAU/RN acredita que a preservação desses espaços é fundamental não apenas para a proteção do patrimônio, mas também para a promoção da identidade cultural e o fortalecimento da memória coletiva da cidade. Para o CAU/RN, iniciativas como essa contribuem para a revitalização do centro de Natal, integrando história e modernidade, e promovendo um futuro sustentável e conectado com nossas raízes”, informou a entidade.
Construído por Luiz de Barros, o Cine Panorama foi inaugurado em 1967 e perdurou até os anos 1990, fechando as portas após o boom dos cinemas de shopping.
Assim como outros cinemas de rua, teve sua última utilização como uma igreja evangélica, que posteriormente também deixou de funcionar lá, e o prédio ficou sem uso. Fotos tiradas no ano passado pela página “Aqui já existiu um cinema” mostram que a estrutura do espaço se manteve no formato de cinema, com as cadeiras de madeiras intactas. Na parte superior também permaneceram mais cadeiras para os espectadores e o espaço de projeção. Contudo, as paredes apresentavam problemas de infiltração e o teto original da sala de exibição havia sido removido.