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Acordo de US$ 600 milhões estimula venda de alimentos para a Argentina

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Brasil e Argentina criaram um mecanismo para estimular o fluxo comercial.

As exportações brasileiras para o país vizinho, principalmente de alimentos e peças de automóveis, contarão com garantia de US$ 600 milhões, segundo anunciaram na noite desta segunda-feira (29) os ministros da Economia Fernando Haddad e Sergio Massa, após reunião que contou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Brasília.

As garantias são necessárias para que os exportadores saibam que vão receber o valor devido, já que os pagamentos são sempre feitos em parcelas. Quando o exportador brasileiro vender para a Argentina, ele será pago pelo Banco do Brasil, que receberá a garantia do CAF (Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe).

A forma de garantir esses pagamentos tem sido tema de muitos debates e novas propostas nos últimos tempos, muitas delas buscando evitar que o trâmite comercial seja todo feito em dólares, especialmente quando envolve países com dificuldades para obter reservas em dólares, caso da Argentina, que passa por série crise econômica.

O próprio Haddad havia anunciado, na semana passada, a ideia de estruturar uma operação menor do que a anunciada agora, algo em torno de US$ 140 milhões, que tinha como fundamento a garantia em yuans (moeda chinesa) das exportações brasileiras. Nesse caso, a troca de yuans para reais seria feita pelo Banco do Brasil em Londres.

No entanto, o que foi anunciado ontem é diferente. “É um caminho que todo mundo já conhece”, diz o economista Giorgio Romano, professor da Universidade Federal do ABC e membro do Observatório da Política Externa e da Inserção Internacional do Brasil (OPEB).

“Os argentinos vão comprar em dólar os produtos brasileiros, que é o que os exportadores brasileiros querem, com garantias do Banco do Brasil e a contragarantia do CAF”, explicou ele ao Brasil de Fato.

O governo cria alternativas, mas quem faz o comércio são as empresas, elas escolhem como querem realizar as transações. “E a grande maioria dos operadores prefere dólar”, afirma o economista, que vê essa preferência ainda mais nitidamente entre os argentinos, que “não confiam no peso e querem o dólar como segurança”.

O ministro Haddad, avalia Romano, gosta de pensar de forma inovadora, mas “depois precisa ver onde essas ideias vão dar”. Segundo avaliação dele, a proposta de trocas comerciais em yuan sem que houvesse um ator chinês envolvido em nenhuma ponta da transação seria inédita no mundo, mas potencialmente arriscada no sentido de algum risco cambial e falta de liquidez. “Não sei o que o Banco do Brasil pensou disso. Mas essa ideia já está fora da mesa”.

O próprio Haddad, após a reunião com Massa, notou que o acordo anunciado na segunda-feira tende a ser mais vantajoso para o país vizinho do que a proposta anterior. “Quando a Argentina dispõe de reserva em yuan para garantir exportação brasileira, oficialmente as reservas da Argentina diminuem. (Agora) a Argentina, com apoio do CAF, não precisa abrir mão dessas reservas para garantir as exportações”.

O acordo também é vantajoso para os argentinos do ponto de vista comercial, já que as economias são integradas, explica Romano, e por isso é interessante para empresários da Argentina poderem comprar no Brasil os insumos de que necessitam. “O Brasil é muito importante para o mercado argentino”.

Para ser ratificado, o acordo ainda precisa de aprovação do conselho gestor do CAF, que terá reunião no dia 14 de setembro.

Reflexos na disputa política

Giorgio Romano arrisca também um comentário político, ao dizer que o acordo foi um “golaço” para Sergio Massa, que será o candidato governista nas eleições presidenciais de outubro. Ele conseguiu na semana passada a liberação mais US$ 7,5 bilhões junto ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e no último domingo, pouco antes de embarcar para Brasília, anunciou um pacote de medidas para melhoras as finanças de milhões de cidadãos argentinos. “Está se posicionando como o cara que faz”, opina Romano.

Massa foi o terceiro colocado nas eleições primárias, atrás dos candidatos Javier Milei (extrema direita) e Patricia Bullrich (direita). Ambos acusaram o candidato governista de populismo pelas medidas anunciadas no domingo.

Frota fluvial

Após a reunião com Lula e Haddad, Sergio Massa pontuou que a conversa também abordou o aumento de trocas fluviais entre os países, interrompidas na gestão de Jair Bolsonaro, e a renovação do acordo São Borja (Brasil) – Santo Tomé (Argentina).

Em julho, o governo brasileiro renovou o contrato de concessão da ponte internacional que liga as duas cidades, garantindo regularidade das operações e atendimento aos usuários nesse importante entreposto comercial. “O acordo nos permite seguir administrando a facilidade logística na zona que move 60% do comércio bilateral”, reforçou Massa.

Edição: Rodrigo Durão Coelho

Brasil de Fato


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