Nove meses depois de Elon Musk ter restabelecido a conta de Donald Trump na rede social X, anteriormente conhecida como Twitter, o ex-presidente dos Estados Unidos regressou àquela que foi outrora a sua plataforma eleitoreira para comunicar com o país.
O regresso de Trump – que costumava ser um dos utilizadores mais proeminentes, embora controversos, do site – poderá marcar um ponto de virada para a empresa após meses de turbulência.
Com quase 87 milhões de seguidores, Trump poderá atrair um vasto conjunto de usuários, especialmente no período que antecede as eleições presidenciais de 2024, em que é o principal candidato para vencer as prévias republicanas.
Ele também poderá apresentar um novo conjunto de desafios para a rede social, incluindo o esforço para atrair mais publicidade, caso o ex-presidente decida retomar suas publicações recorrentes na plataforma.
Na noite da última quinta-feira (24), Trump postou pela primeira vez no site desde janeiro de 2021, quando foi suspenso por violar as regras do Twitter após o ataque de 6 de janeiro de 2021 contra o Capitólio dos EUA.
A publicação trouxe a foto de fichamento policial do ex-presidente, após sua rendição na Geórgia por mais de doze acusações decorrentes de seus esforços para reverter os resultados das eleições de 2020. Ele ainda postou um link para uma arrecadação de fundos.
O retorno de Trump pareceu ser bem recebido por Musk, que tem incentivado políticos e figuras públicas a utilizar a plataforma, em uma tentativa de melhorar o número de usuários. O proprietário da rede social compartilhou a postagem do ex-presidente dizendo: “Próximo nível”.
Mais tarde, parecendo fazer referência a Trump sem nomeá-lo explicitamente, Musk postou que “a velocidade com que sua mensagem nesta plataforma pode alcançar um grande número de pessoas é alucinante”.
Se Trump decidir voltar a postar regularmente no antigo Twitter, isso poderá ser um grande benefício no esforço da plataforma para atrair público, à medida que enfrenta o aumento da concorrência.
Na esteira das controversas decisões políticas de Musk, uma série redes sociais alternativas surgiram, incluindo o Threads, da Meta, que lançou uma atualização importante esta semana.
Em 17 de julho, o tráfego para o então Twitter caiu mais de 9%, em comparação com o mesmo período do ano anterior, de acordo com o relatório público mais recente da empresa de inteligência de tráfego de internet Similarweb.
As mudanças de Musk na empresa também irritaram alguns anunciantes, afetando o negócio principal do X.
Enquanto presidente, as publicações de Trump movimentavam frequentemente os mercados, definiam o ciclo de notícias e impulsionavam a agenda em Washington – fato que beneficiou a empresa sob a forma de incontáveis horas de engajamento dos utilizadores, o que quase certamente poderia voltar a acontecer.
E, embora Trump tenha utilizado sua própria rede, o Truth Social, desde que foi suspenso de outras plataformas no início de 2021, o X pode lhe dar um maior alcance enquanto disputa as prévias republicanas.
O retorno de Trump “deverá ter um impacto positivo no envolvimento [do X] no momento em que for necessário”, disse à Tom Forte, analista do DA Davidson.
(Não está claro como Musk – que tem sido frequentemente o personagem principal do X desde a sua aquisição, em alguns casos graças às suas próprias decisões políticas – se sentiria em relação a compartilhar os holofotes.)
Esse envolvimento poderia ser um argumento de venda para o X em sua busca para atrair anunciantes de volta à plataforma.
Mas a volta de Trump também pode levantar novas preocupações para os anunciantes, alguns dos quais reduziram seus gastos no antigo Twitter por temores de que seus anúncios pudessem ser veiculados ao lado de conteúdo controverso ou potencialmente questionável, já que Musk reduziu a moderação de conteúdo no site.
Musk disse no mês passado que a empresa ainda tinha fluxo de caixa negativo devido a um declínio de 50% na receita de seu principal negócio publicitário, embora a CEO, Linda Yaccarino, tenha dito semanas depois que a empresa está agora “perto do ponto de equilíbrio”.
E, embora a liderança do X tenha afirmado que os anunciantes estão regressando graças aos novos controles de segurança da marca, pelo menos duas empresas interromperam recentemente os investimentos, depois de suas propagandas aparecerem ao lado de uma conta que celebrava o partido nazista.
O perfil foi suspenso e a plataforma disse que as impressões de anúncios na página eram mínimas.
Trump frequentemente ultrapassava os limites quando estava ativo no Twitter. Durante anos, a plataforma adotou uma abordagem moderada na moderação da sua conta, argumentando por vezes que, como funcionário público, o então presidente deveria ter ampla liberdade para falar.
Agora, se Trump regressar aos seus velhos hábitos – o ex-presidente, por exemplo, continuou a afirmar falsamente em publicações no Truth Social que as eleições de 2020 foram roubadas – Musk poderá ser forçado a decidir se perderá anunciantes ou comprometerá sua posição declarada com a “liberdade de expressão”.
O analista Tom Forte disse que observará de perto o impacto do retorno de Trump nos negócios de publicidade da rede social. “O aumento do envolvimento deve ser favorável, mas existe o risco de que o aumento da controvérsia possa prejudicar as vendas de anúncios”, explicou.
Ainda não está claro se Trump realmente voltará a ser ativo no X depois da postagem da última quinta-feira, que foi essencialmente um apelo de arrecadação de fundos, e semelhante ao que ele postou no Truth Social.
Depois que o Facebook restaurou a conta de Trump no início deste ano, muitas de suas postagens nessa plataforma tiveram como objetivo direcionar os usuários a doarem ou se voluntariarem para sua campanha.
Além disso, depois de retornar ao X, Trump apareceu para tentar esclarecer onde reside sua lealdade: “Eu amo o Truth Social. É minha casa”, publicou.