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Após 6 anos de aclimatação, peixe-boi Luara será solta no RN

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A peixe-boi-marinho Luara voltará ao mar, de onde foi resgatada ainda filhote, na próxima terça-feira (25). Ela foi salva pelo Projeto Cetáceos da Costa Branca (PCCB) há seis anos, na Praia de Morrinho, em Areia Branca. Luara será a sexta representante da espécie a ser reintroduzida no litoral do Rio Grande do Norte por meio do projeto.

Ela será solta aos 6 anos de idade, pesando 350,2 kg. Após um intenso processo de reabilitação e aclimatação, Luara encontra-se apta a retornar ao seu habitat natural, mas seguirá sendo monitorada a distância.

O evento é aberto ao público e vai ocorrer às 10h, no Recinto de Aclimatação de Peixes-Bois, localizado na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão (RDSEPT), em Macau. Cabe destacar que o peixe-boi-marinho (Trichechus manatus) é uma espécie em perigo de extinção.

Luara será a sexta peixe-boi solta no RN – Foto: PCCB

Fundador e coordenador geral do PCCB, o professor Flávio Lima explica que o RN é o território com maior incidência de encalhes de filhotes de peixes-bois-marinhos: “O que acontece é que os filhotes encalham sozinhos, com um, dois ou três dias de nascidos, e não podem ser devolvidos (de imediato) à natureza, porque eles são mamíferos, como nós, e precisam de todo um cuidado em relação à sua reabilitação”.

O peixe-boi-marinho, segundo o biólogo, é uma espécie em um “estágio muito crítico de extinção”. “O programa de soltura no Rio Grande do Norte é uma importante iniciativa para promover a conservação dessa espécie”, afirma.

“Cada soltura é um momento de grande relevância, mas também simbólico, para a conservação das espécies marinhas e do ambiente. E o Rio Grande do Norte assume, hoje, um papel de grande destaque por ter, de forma ativa, um recinto de aclimatação dentro de uma reserva, em parceria com o Idema (Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente”, pontua.

Assim como Luara, os demais peixes-bois-marinhos que ficaram encalhados no estado nos últimos anos foram resgatados pelo PCCB, ligado à Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern). Antes dela, Gabriel, Rosa, Angelina, Zé e Gaia retornaram à vida marinha após o monitoramento.

Ao todo, 17 animais são atendidos por meio do Projeto de Monitoramento das Praias: cinco estão soltos na natureza; seis em aclimatação em ambiente natural; e outros seis em reabilitação no centro de reabilitação, em Areia Branca.

“Lua bem bonita”

A bióloga Raquel Marinho conta o significado do nome de Luara: “O nome de Luara foi em homenagem à lua cheia que tinha no dia em que ela encalhou. Luara é em homenagem à lua, que era uma lua bem bonita no dia em que ela encalhou”.

“Os nomes dos peixes-bois estão relacionados à data em que eles encalharam e à pessoa que colaborou no resgate desse animal”, Explicar.

Gabriel foi o primeiro peixe-boi resgatado e reintroduzido pelo PCCB/Uern. O animal foi avistado em 2017, no Ceará, e passou seis anos em reabilitação. Assim sendo, o PCCB realizou a primeira soltura de peixe-boi-marinho no RN em maio de 2023.

Espécie está em estado crítico de extinção, diz professor – Foto: PCCB

Durante o processo de reintrodução à natureza, Luara vai receber um equipamento que permite monitorá-la de forma remota, por meio de sinal VHF e satelital.

É necessário um trabalho educativo com as comunidades locais para explicar a funcionalidade e a importância do dispositivo, de modo que ninguém tente removê-lo, pois ele é essencial para acompanhar o deslocamento dos animais e para a sua adaptação ao ambiente natural.

Monitoramento e soltura

O Projeto Cetáceos da Costa Branca atua em todo o RN e em partes do Ceará, em parceria com outros projetos sem fins lucrativos que visam à conservação da fauna marinha.

Para Flávio Lima, momentos de soltura são essenciais “para a conservação do peixe-boi marinho, que é uma das espécies mais ameaçadas de extinção do Brasil. A distribuição dessa espécie é bem restrita atualmente, no Brasil, entre Alagoas e a costa do Amazonas. Estima-se uma população, em toda essa área, de 500 a 1.000 indivíduos”.

Saiba Mais: Projetos resgatam animais marinhos e preservam reprodução das tartarugas no RN

“Devolvemos para a natureza aqueles animais que nasceram, mas que, por motivos diversos, principalmente ligados a mudanças climáticas e ao uso desordenado do nosso litoral, encalham. Eles não conseguem acompanhar a mãe no movimento das marés”, conta.

O biólogo destaca o apoio da comunidade local e o engajamento dela nas ações de resgate, reabilitação e aclimatação dos animais. Ainda segundo ele, o objetivo das ações é restabelecer a população de peixes-bois-marinhos, ajudando aqueles animais que encalharam e permitindo que eles voltem em segurança para o habitat natural.

Equipe do projeto realiza monitoramento da vida marinha – Foto: PCCB

Essa espécie é dócil, e por isso o PCCB realiza trabalhos de comunicação, divulgação e educação ambiental e envolvimento comunitário, a fim de evitar que as pessoas interajam de modo incorreto com o peixe-boi e o coloquem em risco.

“Que não se aproximem, que não toquem, que não ofereçam alimento. A gente faz esse trabalho educativo e de sensibilização com as comunidades litorâneas – pescadores, pescadoras, marisqueiros que são grandes parceiros no projeto”.

Monitoramento de praias

As ações de resgate, reabilitação, estabilização, soltura e monitoramento de peixes-bois-marinhos são desenvolvidas no âmbito do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia Potiguar (PMP-BP).

O programa de monitoramento vincula-se a uma condicionante do licenciamento ambiental federal exigida pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para a realização de atividades de exploração, produção e escoamento de petróleo e gás executadas pela Petrobras na Bacia Potiguar.

Além disso, o PMP-BP é executado pelo PCCB por meio de convênio firmado entre a Petrobras, a Uern e a Fundação para o Desenvolvimento da Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado do Rio Grande do Norte (Funcitern).

Como acionar o PCCB?

Se vir um peixe-boi-marinho encalhado ou avistar algum animal com equipamentos de radiotelemetria, entre em contato com o PCCB-Uern por meio destes contatos:

● Natal e região: (84) 9 9943 0058

● Areia Branca e região: (84) 9 8843 4621

Mais informações: @pccbuern.

Quem são os peixes-bois marinhos

Os peixes-bois marinhos (Trichechus manatus) estão em listas nacionais e internacionais das espécies em perigo de extinção. De acordo com informações do PCCB/Uern, esses animais são mamíferos aquáticos herbívoros e não ruminantes, podendo pesar até 500 kg e chegar a 3,5 metros.

Pertencente ao grupo dos sirênios, a espécie sofre “diversas pressões naturais e antrópicas que podem agravar seu status de conservação”, diz o site do projeto. O peixe-boi-marinho costuma viver no mar, mas também pode frequentar áreas estuarinas (de transição) ou de rios.

Além do peixe-boi-marinho, há o peixe-boi-amazônico (Trichechus inunguis). Ambas as espécies já foram muito caçadas. Além da caça, no entanto, outros problemas ameaçam a espécie, como choque com embarcações, destruição de habitats, desmatamento do manguezal, poluição e ingestão de lixo.

Causas naturais para a extinção da espécie, segundo o PCCB, são a sua lenta reprodução; o comportamento dócil do animal, que permite a aproximação de seres humanos; e a suscetibilidade a doenças infecciosas.

Animais passam cerca de seis anos em monitoramento antes de voltarem à natureza em segurança – Foto: PCCB

O projeto destaca que o encalhe de filhotes órfãos, geralmente com poucas horas ou dias de vida, é a principal causa de mortalidade da espécie no Nordeste brasileiro, ocorrendo principalmente no Oeste do RN e no Extremo Leste do Ceará.

Sobre o PCCB

Fundado em outubro de 1998, o Projeto Cetáceos da Costa Branca inicialmente visava estudar a ecologia e o comportamento dos cetáceos – baleias e golfinhos – na região da Costa Branca, daí seu nome.

Contudo, rapidamente o projeto viu que teria que atender a outras demandas, diz seu fundador. “Demandas de pesquisa e conservação, e também de acionamentos das comunidades envolvendo tartarugas, peixes-boi e aves”.

“A ideia era estudar ecologia e comportamento, mas hoje nós trabalhamos com ecologia, comportamento, resgate, reabilitação, monitoramento, educação ambiental e políticas públicas para a conservação das espécies nos ambientes costeiros, marinhos e oceanos do Rio Grande do Norte. Contribuindo com a sustentabilidade do uso desses territórios, envolvendo as comunidades e os órgãos públicos nessa estratégia de conservação ambiental participativa”, detalha.

O monitoramento de praias iniciou em dezembro de 2009, quando a Petrobras convidou o PCCB para executar a condicionante ambiental exigida pelo Ibama.

O monitoramento diário das praias busca fazer o registro de animais encalhados, identificar as causas do encalhe ou da morte, “avaliando se tem relação com a atividade de exploração, produção e escoamento do petróleo e gás realizado pela empresa e resgatar, reabilitar e soltar os animais que foram encontrados vivos”Lima pontua.

Ao longo de quase três décadas de existência, o PCCB se expandiu e fez parcerias com comunidades, professores e outros projetos de fauna marinha, como o Centro de Estudos e Monitoramento Ambiental (CEMAM), Fundação Tamar, Associação de Proteção Ambiental Cabo de São Roque, ONG Oceânica e NuMar. Atualmente, dispõe de bases em Natal, São Miguel do Gostoso, Diogo Lopes, Guamaré, Areia Branca e Mossoró.

Impactos a favor da vida marinha

Flávio Lima avalia que o PCCB teve diversos impactos. Observou-se que os peixes-bois, que até então eram uma fonte de alimento, não são mais capturados por comunidades que antes tinham a prática da captura intencional, ou até mesmo acidental.

Os moradores das comunidades, inclusive, são treinados para ajudar caso avistem um encalhe, para fazer os atendimentos iniciais enquanto as equipes técnicas não chegam ao local. Se o animal está encalhado e leva muito sol, por exemplo, pode se desidratar.

Sobre as tartarugas marinhas também houve, com o passar do tempo, uma “ampliação do conhecimento das áreas de uso para alimentação e reprodução de tartarugas marinhas no RN. Até então, não se tinha informações sobre a ocorrência de desovas de uma maneira cientificamente organizada, e hoje, pelas atividades que o projeto desenvolve em parceria com o CEMAM, nós temos um mapeamento de todo o litoral do estado”.

As instituições sem fins lucrativos, ainda, constroem juntas um conjunto de dados que contribui de forma efetiva para os processos de definição de políticas públicas para uso e ocupação das áreas litorâneas e para os processos de licenciamento que envolvem áreas marinhas e costeiras.

“O que a gente considera mais importante é o aumento da sensibilização das comunidades e das áreas litorâneas para a questão e a temática da cultura oceânica e da conservação dos recursos do oceano”, Lima frisa.

Continua:

“Anualmente, nós atingimos um público de forma direta para as nossas atividades educativas, sem contar redes sociais ou outros tipos de atividades, de mais de 5 mil pessoas, por meio de palestras, oficinas, eventos, exposições, cursos e treinamentos”.

No caso dos peixes-bois e de suas solturas, o projeto consegue realizar todo o ciclo de conservação, desde o resgate do animal encalhado e frágil – no caso de recém-nascidos, por exemplo –, aclimatação e reintrodução no habitat natural.

“A gente espera que os peixes-boi repovoem todo o litoral do Rio Grande do Norte”, Lima conclui.



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