Entre as muitas vozes da sociedade civil, movimentos sociais e entidades sindicais que participaram da Cúpula do G20 Social, encerrado no sábado (16), no Rio de Janeiro (RJ), uma era do Rio Grande do Norte: a do jovem militante, ativista ambiental e estudante da UFRN, Wilen Ivinen. O evento paralelo antecedeu a reunião da Cúpula do G20, formada pelas maiores economias do mundo, além da União Europeia e da União Africana, que acontece na segunda-feira (18) e na terça-feira (19).
Wilen contou que, antes do G20 Social, participou das etapas do Grupo de Engajamento de Juventude do G20, chamado de Youth20, que foram encontros pré-cúpula realizados em junho em Belém (PA) e em agosto no Rio de Janeiro (RJ). “Essas duas etapas foram focadas nas juventudes, com a participação de jovens protagonistas de vários estados e eu fui convidado representando o RN”, explicou.
“Tivemos a oportunidade de levar as demandas, as questões que consideramos relevantes para o cenário nacional e internacional, dentro dos eixos de inclusão social, mudanças climáticas, combate à fome e inclusão digital, dentre outros temas”, acrescentou.
G20, não Brasil
O Brasil assumiu pela primeira vez a presidência temporária do G20 no início de dezembro de 2023. O encontro dos líderes mundiais no Rio de Janeiro, durante esses dois dias, marca o fim desse período, considerado fundamental para a diplomacia brasileira. Não por acaso, essa foi a primeira vez que a sociedade civil participou dos debates sobre como encontrar soluções para problemas globais, como as mudanças climáticas, transição energética e desenvolvimento sustentável e o combate às desigualdades, à fome e à pobreza.
Para Wilen, a inserção das juventudes num espaço de discussão dessa dimensão demonstra a força do protagonismo jovem em temas como o das mudanças climáticas, que impactam diretamente a vida dessa parcela da população, principalmente nas regiões mais vulneráveis, que não são resilientes a eventos extremos.
“As juventudes têm um componente de rebeldia que é importante para mobilizar a sociedade, para denunciar o que está errado e para fazer o enfrentamento. Quem vem protagonizando a resistência, a pressão e o debate em defesa de políticas de combate às mudanças climáticas é a juventude no mundo inteiro. Isso é muito perceptível em conferências como essa do G20 Social”, declarou.
Wilen defendeu a necessidade de levar o debate sobre o meio ambiente, especialmente sobre as mudanças climáticas, “para as periferias, as comunidades e as escolas”, como forma de ir além da bolha da ciência, da universidade e dos setores públicos que estão diretamente ligados ao tema.
“É desafiador, porque as pessoas precisam compreender que a alteração do clima não tem a ver apenas com a elevação da temperatura. Eventos climáticos extremos, fruto do aquecimento global, como as enchentes que aconteceram esse ano no Rio Grande do Sul, afetam diretamente a nossa vida, a nossa existência. O meio ambiente não é distante de nós, nós vivemos nele e nós somos afetados pelo que fazemos com ele”, observou.
Na opinião do jovem ativista, a luta pelos direitos humanos, o enfrentamento à pobreza e o combate às desigualdades sociais, por exemplo, não podem se dar mais de maneira isolada, sem levar em consideração a discussão sobre as mudanças climáticas e a preservação do meio ambiente.
“Está tudo conectado. As pessoas mais vulneráveis, com os recortes de classe, raça e gênero, são justamente as que serão mais impactadas pelos efeitos das mudanças climáticas”, enfatizou.
Responsabilização
Wilen destacou que o fato de o Brasil presidir o grupo colocou no centro do debate a “reflexão sobre a responsabilização dos países do G20”.
“O desenvolvimento dos países do G20 se deu às custas da exploração do meio ambiente, que resultou nessa situação que vemos hoje de aceleração das mudanças climáticas no mundo. Enquanto isso, os países do sul global, que tiveram menor influência nessas mudanças, são os mais afetados”, ressaltou.
É por isso que, na visão dele, os chamados países desenvolvidos “têm uma responsabilidade política global muito grande com os países do sul global, que ainda estão em processo de transição energética e precisam de incentivos financeiros para fazer a adaptação climática”.
Isso passa, necessariamente, pelo financiamento do combate à fome, à pobreza e às desigualdades, além do enfrentamento às mudanças climáticas, através de políticas de mitigação, resiliência e justiça climática. A principal proposta defendida pelo Brasil para alcançar essa meta é a taxação global sobre grandes fortunas, que enfrenta resistência de outros países do grupo, como a Argentina do conservador Javier Milei.
O projeto brasileiro previa um imposto de até 2% sobre a riqueza de bilionários de todo o mundo. O economista francês Gabriel Zucman, contratado para elaborar a proposta, estimou que a taxação seria capaz de arrecadar entre US$ 200 bilhões e US$ 250 bilhões por ano.
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer que esse dinheiro seja usado em políticas contra a fome, a miséria e que promovam a transição energética. A proposta consta no texto da Declaração Final da Cúpula Social do G20 (G20 Social), divulgada no sábado, que será entregue aos líderes do G20.
O documento também alerta para o risco à democracia representado pela desinformação promovida pelas “forças da extrema direita”, cobra uma reforma do Conselho de Segurança da ONU e pede o fortalecimento do trabalho decente para combater as desigualdades e a pobreza.
Para o ativista potiguar, a discussão sobre essas pautas não se encerra com o encontro do G20. “Esse é um processo contínuo de acompanhamento em que a sociedade civil, através da mobilização social, precisa cobrar a efetivação de tudo o que foi debatido por esses líderes mundiais”.
O RN e a Transição Energética
Wilen disse que uma das suas responsabilidades ao participar do G20 Social era de alertar para o modelo de transição energética em curso no Rio Grande do Norte. Ao mesmo tempo em que o estado lidera a produção de energia eólica no país, esse protagonismo está reproduzindo o que ele classificou de “injustiça climática”.
“O RN é uma referência no debate sobre a transição energética por ser um dos maiores produtores de energia eólica do país, mas essa transição energética está promovendo injustiça climática disfarçada de desenvolvimento sustentável, com populações quilombolas tradicionais, populações caatingueiras e agricultores familiares sendo expulsos dos seus territórios para a ampliação dos parques eólicos”, denunciou.
Ele é categórico ao afirmar que o Rio Grande do Norte “é um modelo de transição energética a não ser seguido”. “A transição energética é necessária, mas precisa ser feita sem expulsar as comunidades que existem naqueles territórios. É preciso haver também compensações sociais e ambientais para a comunidade e o estado, o que não é feito hoje”, completou.