Bloco dos Poetas, Carecas, Bruxas e Lobisomens completa 20 anos com fôlego renovado

Completar 20 anos de carnaval não é para qualquer um, mas no caso do bloco dos Poetas, Carecas, Bruxas e Lobisomens, a energia vem sendo renovada a cada geração. Matheus é um dos foliões mais novos, ele começou no bloco aos seis meses e hoje está com cinco anos.

“Lançamos os Poetinhas, que é o carnaval das crianças com a Charanga do Riso, antes do show de abertura. O bloco traz a oportunidade para as pessoas reviverem as brincadeiras. As crianças querem pegar (nos bonecos gigantes) para saber se é verdadeiro, eles vivem a fantasia do brincar, do lúdico”, conta Teresa Freire, coordenadora do bloco.

Quem também começou na folia ainda pequena foi Alice, que hoje já é uma adolescente. Desde os cinco anos, todo carnaval, ela entra na brincadeira.

““Quando ela era ainda pequena, pensamos que o bloco tinha uma proposta bem familiar, com espaço e oportunidade para brincantes de todas as idades. De crianças pequenas como era Alice, a pessoas idosas como minha mãe, que foi algumas vezes conosco. Além disso, o lúdico das bruxas, dos lobisomens são bem marcantes para os pequenos. Quantas roupas manchadas nas guerras de espuma lá em Ponta Negra? Por muitos anos, a nossa ida ao bloco era com a turma de amigos de Alice, cujos pais se tornaram também a nossa turma de amigos. Mas por vários fatores distintos, nem sempre todos estamos juntos todos anos. Mas eu e Alice, na maioria dos últimos dez anos de Carnaval, passamos nosso sábado com os Poetas, carecas, bruxas e lobisomens”revela Daniel Dantas Lemos, pai de Alice e professor universitário.

O Poetas, Carecas, Bruxas e Lobisomens foi ideia do jornalista Edmar Viana, que convidou os amigos que veraneavam em Ponta Negra para apresentar a proposta de um resgate do carnaval tradicional de rua.

“Ele chamou a gente e apresentou os slides. O Lobisomem é a história do Morro do Careca e da Vila de Ponta Negra. Tinha a lenda que ele saía à meia noite, então tinha que voltar para casa cedo, é um personagem que está em muitas histórias infantis. Já o Poeta traz a ideia da poesia, ligando o carnaval com o 14 de março. Ponta Negra tem uma história muito bonita, que traz as histórias dos boêmios, assim como a Redinha. O Careca é o Morro do Careca”, traduz Teresa Freire, que durante a apresentação observou que no bloco faltava a figura feminina.

“Quando Edmar nos chamou para apresentar a ideia, eu como feminista, carnavalesca e apodiense, que sempre brincou carnaval com burrinhas e vários blocos, já enxergava como a mulher poderia estar no carnaval e ter seu espaço mais respeitado. Que pudéssemos colocar nossas fantasias, nos maquiarmos não apenas para ficarmos bonitas, mas que também pudesse compor o carnaval e uma forma respeitosa, que ela pudesse expressar sua autonomia. Foi quando disse ‘Edmar tá faltando algo nessa roda, está faltando a Bruxa, para que ela possa entrar na avenida trazendo sua luz de sociedade mais igualitária, sem preconceito e sem violência, a luz do amor, da paz, a irreverência de ocupar o lugar que elas quiserem’”, resgata Teresa.

Um pouco de história

O bloco dos Poetas, Carecas, Bruxas e Lobisomens saiu na rua pela 1ª vez em 2005 já com os quatro bonecos gigantes, cada um com sua simbologia.

““Em função disso começamos a entrar numa pegada cultural. Usamos o Boi de Reis e os Brincantes, que tem que ter uma Catirina, um Mateus e um Birico. Uma vez fizemos uma cobra gigante que diziam que tinha dentro da lagoa de Extremoz”, Explica Hugo Manso.

Edmar Viana, que faleceu em 2008 em decorrência de problemas cardíacos, foi homenageado e também se tornou um dos bonecos gigantes.

Com o passar do tempo e a popularização do bloco, surgiram dois problemas…

“O muito bom é que o bloco cresceu demais. Colocamos 10 mil pessoas ali em Ponta Negra, então, o som da banda de frevo não consegue atingir todo mundo. Esse é um problema bom, que ao mesmo tempo é ruim porque não queremos mudar o estilo e estamos fazendo um esforço para que este ano tenhamos bandas maiores e até mais de uma para ir uma na frente e outra atrás. O outro problema são as estruturas dos quatro bonecos principais, que já têm 20 anos, o de Edmar é um pouco mais recente, mas já tem uns 15 anos. Já tivemos Boi de Reis, Jaraguá, uma cobra gigante porque fazemos relação com o folclore”, conta Hugo Manso.

A proposta do bloco foi uma crítica à dinâmica de outros eventos, que cobravam do folião para participar e focavam unicamente no axé music.

““Resgatamos a ideia da Bandagália, que tinha essa pegada de andar na rua. Ele surge não questionando o Carnatal, mas como alternativa a ele, tem gente que curte as duas coisas, sem problemaHugo admite.

Desde a fundação até hoje o bloco sai apenas no sábado de carnaval, para que os foliões possam aproveitar os outros dias de festa em outros blocos ou até fora da cidade.

““O próprio Edmar Viana, nosso fundador, todo domingo, via de regra, ia para Recife. Era uma forma de deixar o folião livre para fazer outras incursões”, diz Hugo Manso.

Numa cidade carente de carnaval de rua, o bloco deu tão certo que acabou fundando o polo cultural de Ponta Negra.

““O polo Ponta Negra é filho legítimo do Poetas, Carecas, Bruxas e Lobisomens, e aqui entra o papel de Dácio Galvão enquanto gestor, assim como o Frevo do Xico, que surgiu por uma demanda do bloco. A primeira entrada deles no carnaval foi com o bloco. Sempre fui tiete dos irmãos Bethoven e Jubileu. A gente nem se conhecia pessoalmente, mas num evento disse: Bethoven, você podia criar uma banda pra sair com a gente e ele criou o Frevo do Xico, ele é saxofonista e o irmão é o melhor guitarrista de Natal, senão do país”, Revela Hugo.

Um bloco que homenageia outros blocos

Todos os anos os integrantes do bloco fazem uma homenagem. Já receberam a reverência o compositor Dosinho, a Xanana, Djalma Maranhão, Nísia Floresta, Edmar Vianna, entre outros.

Este ano, o tema da homenagem será a diversidade:

““Vamos homenagear pessoas com Síndrome de Down, negros , negras, produtores culturais, amigos, parceiros, foliões e as pessoas que sempre acreditaram no bloco, como Pedro Abech que trouxe essa coisa da Cidade Alta, Lula Belmont, das Kengas, Chrystal como uma das primeiras cantoras, Sueldo, Diogo das Virgens, Cida Lobo esse ano e o  Frevo do Chico, dentre tantos outros, sempre foram artistas que valorizamos porque queríamos cultivar uma música que acreditávamos como nordestina , o samba e frevo que resgata o carnaval tradicional”, defende Teresa.

A proposta é de também homenagear as pessoas que atuam no carnaval, como outros dois blocos bem conhecidos da cidade: a Banda do Siri e o bloco das Kengas.

Cada um dos 17 homenageados vai receber uma comenda elaborada pelo artista plástico Guaraci Gabriel, que uniu diferentes simbologias em peças de metal.

““Peguei a marca do bloco e joguei a Xanana, que é a flor oficial que simboliza Natal. Coloquei isso sobre o mapa do Rio Grande do Norte, que este ano comemora 524 anos. É uma homenagem ao bloco e a peça foi esculpida em aço e inox porque queria um trabalho que tivesse um certo peso”, detalha Guaraci Gabriel.

Pranchão

Uma das novidades do bloco este ano é o pranchão, um trio elétrico de menor porte onde Cida Lobo vai fechar a noite.

“Estou muito feliz, estreando no bloco! Vou de bruxa, minha matilha tá linda! Vai ser um show muito pra cima, vou fazer uma homenagem a Terezinha de Jesus, cantar um frevo lindo, também vamos trazer frevos antigos, da velha Guarda, Bloco do Prazer, Bloco da Rua… repertório bem diversificado, além do himo do bloco, que que eu quero que o povo cante junto comigo”, conta Cida Lobo, que estreia como cantora e foliã do bloco, já que passou 23 anos em São Paulo.

O Convite

O Bloco dos Carecas, Poetas, Bruxas e Lobisomens sai sempre no sábado de carnaval. Mas, antes disso, será realizado o lançamento do bloco nesta sexta (21), a partir das 19h, na praça de alimentação do Praia Shopping.

Após o lançamento do bloco, no dia seguinte, nesse sábado (22), a partir das 18h, no Bar 294, em Petrópolis, será realizada a prévia de carnaval.