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Bolsonaro usou cartão corporativo para comprar picanha, camarão e bacalhau, mostram notas fiscais

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Cartão corporativo do ex-presidente foi usado para comprar picanha em pelo menos 68 oportunidades

As notas fiscais das despesas feitas com o cartão corporativo do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) começaram a ser revelados nesta segunda-feira 23, pela agência “Fiquem Sabendo”. Os documentos mostram os gastos realizados pelo ex-mandatário em sua rotina nos palácios do Planalto e Alvorada. Entre as aquisições, há itens como picanha, filé mignon, camarão – que contrariam a imagem de austeridade que Bolsonaro externava – e leite condensado.

O cartão corporativo pode ser usado para esse tipo de despesa e os dados mostram que os ex-presidentes consumiam esses alimentos. Bolsonaro foi o único, no entanto, que procurava passar imagem de “homem simples”. O então presidente disse 15 vezes em lives que não utilizava o método de pagamento. Ele não tinha costume de receber grupos de convidados ao longo dos quatro anos de governo para almoços ou jantares no Palácio da Alvorada, uma prática comum entre seus antecessores.

No dia 7 de junho de 2019, foram comprados 6,3 kg de picanha maturatta, 15 kg de filé mignon sem cordão e ainda peças de costela defumada, batata palha, potes de palmito e azeitona. A conta deu R$ 1.443,07, com R$ 147,28 em descontos. Os pescados também aparecem na lista de compras da residência oficial. Em abril de 2019 foram adquiridos 4,2 kg de camarão rosa, 7,2 kg de bacalhau e 10,8 kg de filé de robalo ao preço de R$ 2.241,55. No intervalo de um ano foram ao menos 14 compras de picanha, 47 de mignon e 15 de bacalhau. Essas despesas eram frequentes – às vezes mais do que uma vez na semana.

As notas fiscais mostram que o cartão corporativo de Bolsonaro foi usado para comprar picanha em pelo menos 68 oportunidades. Apenas em 30 de março de 2019, o cartão corporativo foi usado para comprar R$ 743,26 neste corte de carne.

Peças de filé mignon constam discriminadas em outras 67 notas fiscais. Há ainda 23 compras de pacotes camarão, 21 de bacalhau e 34 de Nutella.

O La Palma, um mercado gourmet em Brasília com produtos para a alta gastronomia, recebia visitas praticamente diárias dos funcionários encarregados de fazer as compras do Alvorada. O estabelecimento também foi bastante recorrido para servir aos presidentes anteriores a Bolsonaro. Frutas, verduras, castanhas e nozes, além de temperos e especiarias estavam entre os itens mais comprados.

Ao longo dos quatro anos de mandato foram feitas ao menos 1,2 mil compras naquele mercado. Equivale a uma ida todo dia útil – descontando finais de semana e feriados. Não é possível saber a finalidade de todas as compras, nem para quem ou para qual situação os itens foram adquiridos.

Também existem notas fiscais de compras de medicamentos feitos no cartão corporativo da Presidência. Os dados mostram que o governo Bolsonaro adquiriu medicamentos para depressão e ansiedade, como o Rivotril, para problemas de pele e para gastrite.

As notas fiscais mostram, ainda, que toda vez que Jair Bolsonaro decidia viajar a lazer ou passear de moto por capitais do País ele era acompanhado por até 300 militares ao custo médio de R$ 100 mil para os cofres públicos, em custos com hospedagem e alimentação, por exemplo.

O “Fiquem Sabendo” conseguiu verificar os documentos por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI). Há dez dias, a entidade já havia disponibilizado os gastos totais, por nota fiscal. Mas por meio de um recurso obteve autorização para acessar as notas fiscais com as despesas discriminadas.

Como só existem cópias físicas dessas notas, a equipe do “Fiquem Sabendo” pôde digitalizar apenas parte dos documentos. Há cerca de 2,6 mil páginas escaneadas até o momento, por volta de 20% do total.

“Neste primeiro momento, tivemos acesso às notas mais recentes, do último mandato, mas já estamos em busca das anteriores”, diz a entidade.

“A abertura das notas em transparência ativa, ou seja, no site oficial do governo, é uma solicitação que nossa equipe vem fazendo à Presidência ao menos desde 2019, quando liberamos, pela primeira vez, os gastos do cartão de Temer, Dilma e Lula”, acrescenta.

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