O evento político mais aguardado desta quarta-feira (8/8) é a oitiva de Anderson Torres na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Congresso Nacional. Ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL) e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, ele terá que se defender de acusações de parlamentares a respeito de possíveis omissões ou até participações em eventos que desencadearam no fatídico 8 de janeiro.
Transição
O ex-ministro da Justiça de Bolsonaro voltou para a SSP-DF após o agora ex-presidente aliado perder as eleições. Anderson Torres levou com ele para a esfera local alguns nomes com quem trabalhou no governo federal, promovendo trocas em cargos relevantes na Secretaria de Segurança Pública da capital federal. Essa é a segunda ação que está na mira da CPMI.
A Secretaria Executiva e a Subsecretaria de Inteligência, por exemplo, receberam, respectivamente, Fernando de Sousa Oliveira, ex-diretor de Operações do Ministério da Justiça, e Marília Ferreira de Alencar, ex-diretora de Inteligência do mesmo órgão. Fernando foi criticado no 8 de janeiro por ter enviado, uma hora antes das invasões, um áudio ao governador Ibaneis Rocha (MDB) dizendo que o movimento estava tranquilo.
O papel de Anderson Torres naquele período de transição é o terceiro ponto que deve ser levantado na CPMI. O próprio secretário executivo dele na época admitiu que o chefe da SSP em janeiro viajou sem deixar “nenhuma orientação específica” sobre os atos.
“Ele tinha me demandado a questão dessa operação dos dias 7, 8 e 9. Me apresentou o Protocolo de Ação Integrada, que reúne as ações das forças policiais, e disse que deixaria assinado, mas não me deixou nenhuma orientação específica. Ele disse: ‘Vou assinar e se precisar do senhor, irei demandá-lo’”, declarou Fernando, na CPI em andamento na Câmara Legislativa do DF.
Documento assinado
Esse protocolo, inclusive, promete render questionamentos na CPMI. Como o Metrópoles mostrou, na reunião fundamental para traçar os planos e ações específicas para o 8/1, ocorrida em 6 de janeiro, no Centro Integrado de Operações de Brasília (Ciob), da Secretaria de Segurança Pública, o então secretário, Anderson Torres, não estava.
Foi naquele dia que o Protocolo de Ações Integradas (PAI) foi produzido. A lista dos 15 presentes tem cinco integrantes de forças federais, como a Secretaria de Polícia do Senado, a Coordenação de Segurança do Supremo Tribunal Federal (STF) e a segurança do Ministério de Relações Exteriores (MRE). Após a elaboração do PAI, Anderson Torres aprovou e assinou o documento.
Acampamento
Por fim, a CPMI deve levantar as possíveis omissões do depoente em relação à manutenção do acampamento golpista em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília. A SSP-DF vinha tentando acabar com a mobilização criminosa durante os últimos meses de 2022, mas não promoveu nenhuma operação na área nos primeiros dias de 2023.
Torres chegou a se reunir, 48 horas antes dos ataques, com Gustavo Henrique Dutra de Menezes, general do Exército que chefiava o Comando Militar do Planalto (CMP) no dia do atentado contra a democracia. O registro da reunião foi obtido pelo Metrópoles e mostra o encontro às 10h do dia 6 de janeiro, uma sexta-feira, na sala de reuniões da Secretaria de Segurança Pública.
Denúncias colhidas pela CPI da Câmara Legislativa do DF e relatos feitos na Corregedoria da Polícia Militar do Distrito Federal apontam que o general Dutra foi responsável por impedir ações contra os bolsonaristas no QG. Uma semana após os atos terroristas de 8/1, o Exército demitiu Dutra do cargo. Após a reunião, o então chefe da SSP viajou.
Fonte: Metrópoles