Nos próximos meses, engenheiros da Empresa Gerencial de Projetos Navais (Emgepron) e da startup brasileira TideWise começam a trabalhar na construção de uma lancha de sete metros de comprimento que poderá ser uma novidade para a Marinha brasileira.
O projeto se parece com o de lanchas de patrulha do mesmo porte. Com uma diferença: não haverá lugar para acomodar ninguém. Nenhum piloto nem passageiros. O projeto é de uma embarcação de superfícies não tripulada (USV, na sigla em inglês) — espécie de drone marinho cuja construção demandará R$ 20 milhões. Se tudo sair como planejado, a lancha ficará pronta em fins de 2025.
A Emgepron é uma empresa pública vinculada, por meio da Marinha, ao Ministério da Defesa. A expectativa das empresas envolvidas no projeto é que a embarcação possa ser, em algum momento, incorporada à frota da Marinha.
Batizado de Supressor 7, o barco é um dos veículos não tripulados de uso militar que estão sendo desenvolvidos hoje no país. Outros dois já estão em estágios avançados. São aeronaves pilotadas por controle remoto — uma delas sendo testada para levar mísseis. Exército e Força Aérea assinaram recentemente memorandos de entendimento com fabricantes desses equipamentos.
A tecnologia de veículos não tripulados (controlados remotamente ou autônomos) avança mundialmente, tanto para uso civil quanto militar. Modelos aéreos foram usados pelos EUA no Afeganistão e no Iraque. São usados agora quase diariamente no conflito entre Rússia e Ucrânia, com os dois lados recorrendo a drones aéreos para ataques. E são usados pelas forças de Israel e por integrantes do Hamas.
O avanço e barateamento dessa tecnologia embutem questionamentos. Ataques promovidos por controle remoto e com risco zero para o atacante tornam mais fácil a decisão de matar? Ferramentas de inteligência artificial que vierem a ser adicionadas a drones poderão definir ataques aéreos com riscos de vitimar inocentes?
Longe de guerras, o Brasil tem hoje quase 20 empresas que desenvolvem drones de uso dual (para tarefas civis ou militares), segundo Carlos Frederico Queiroz de Aguiar, diretor-adjunto do Departamento de Defesa e Segurança (Deseg) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e presidente do conselho da Condor Tecnologias Não Letais, empresa privada do setor de defesa.
Aguiar classifica os drones como um “game changer”: uma tecnologia que permite missões longas e arriscadas sem a necessidade de pilotos a bordo. “Podem ser usados em guerras e em segurança pública e têm baixo custo (comparado a aviões de guerra).”
“Muitos países que têm dificuldades de comprar produtos dos EUA e não querem comprar da China e a gente tem tido interessados de países sul-americanos, de países mais ao sul da África, de países árabes na África e de alguns países próximos à China.”
A estratégia da Xmobots, no entanto, é primeiro se estabelecer como fornecedor no Brasil.
Em dezembro de 2022, a empresa — que tem fábrica em São Carlos (SP) — formalizou a entrega ao Exército brasileiro de um sistema de aeronaves remotamente pilotadas (Sarp). Eles serão usados em operações de vigilância, segurança e monitoramento de fronteiras.
Por meio de nota, o Centro de Comunicação Social do Exército afirmou que a aquisição faz parte do processo de adequar a força “aos desafios do combate moderno no médio e longo prazo”.
Além do modelo fornecido ao Exército, a Xmobots está em fase de desenvolvimento de um sistema armado, em parceria com a MBDA, empresa europeia de mísseis. “A gente está em processo de integração dos mísseis. A perspectiva é para 2025”, disse Amianti.
Fundada em 2007, a Xmobots ganhou em 2022 a Embraer como sócia. Dois fundos de investimento já tinham entrado no capital da empresa de Amianti. Hoje, diz ele, 95% das vendas são para o setor do agronegócio — que recorre a drones para o controle e acompanhamento de grandes plantios. Mas a expectativa do empresário é que entre 2025 e 2026, 50% do faturamento virá do setor de defesa e segurança. A indústria de defesa no Brasil faturou quase R$ 400 bilhões em 2021.
Gilberto Buffaro Júnior é um veterano no desenvolvimento de drones. Em 2007, a empresa da qual era sócio na época fechou um contrato para fabricação de um drone que podia ser levado na mochila dos fuzileiros navais e era usado para captar imagens. Na sequência, veio um contrato com a Polícia Federal.
O salto se deu em 2020. Naquele ano, o Atobá, uma aeronave remotamente controlada de 500 kg, fez seu voo inaugural. Agora, a empresa de Buffaro, a Stella Tecnologia, tem outro desafio: desenvolver um sistema de drone capaz de decolar e pousar em um navio em movimento.
“Isso vai acontecer até julho de 2024. Vamos fazer vários voos de teste no navio-aeródromo, da Marinha”, disse o empresário. O drone não levará armas, mas essa poderá ser uma opção no futuro. Em setembro, Buffaro assinou memorando de entendimento com a Marinha. E também, diz, está conversando com a Aeronáutica.
Sua aeronave de controle remoto já atraiu atenções também de representantes de Emirados Árabes, Marrocos, Arábia Saudita, Ucrânia e Índia, disse Buffaro.
“É uma tendência global e por isso a importância de a gente se antecipar, caso contrário, o Brasil terá de comprar essa tecnologia de estrangeiros”, diz André Sochaczewski, capitão de Mar e Guerra da reserva da Marinha e chefe do departamento comercial da Emgepron.
Segundo Sochaczewski, a lancha drone poderá num primeiro momento ser usada para fazer levantamentos hidrográficos, para dar segurança à navegação.