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Em festa para 4 mil pessoas, MST celebra 10 anos de escola referência nacional de agroecologia

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O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) comemorou, neste sábado(26), os dez anos de fundação da Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto, no assentamento Jacy Rocha, no município de Prado, Extremo Sul da Bahia. 

A festa também foi marcada pela inauguração de novos espaços na escola, como a criação de áreas administrativas, bloco de alojamentos, refeitório, auditório, salas de aula. Foi ainda inaugurada uma loja com produtos da reforma agrária.

Neuza de Jesus é técnica de agroecologia e se formou na primeira turma da escola, iniciada em 2017. Ela mora no assentamento Irmã Dorothy, na cidade de Eunápolis, na Bahia, e recordou da relevância da formação para vivência dela no campo.

“Eu vim para escola estudar visando que eu poderia me capacitar profissionalmente para poder atuar dentro dos acampamentos e assentamentos. Consequentemente, fazer um trabalho dentro do meu lote e fazer esse trabalho tanto na minha casa como também para os meus vizinhos”, explicou. 

“A escola foi um divisor de águas na minha vida. A educação sempre vai libertar todo mundo, e com o apoio da escola popular eu consegui me formar, mesmo tendo três filhas, mesmo sendo mãe solo.”

Hoje, Neuza integra uma equipe composta por biólogos, agrônomos e técnicos em agropecuária, para orientar as famílias no processo de transição agroecológica no Assentamento Irmã Dorothy.

Metodologia

A metodologia da Egídio Brunetto tem quatro vertentes centrais: produção, comercialização e os eixos ambiental e social. Em parceria com a Fiocruz, a especialização em Educação do Campo e Agroecologia formou 48 pessoas em sua primeira turma.

Os espaços pedagógicos na Egídio Brunetto também são fundamentados nos quintais produtivos das famílias, onde os sistemas agroflorestais são a base fundamental. É onde estão inseridos os cursos populares não formais, voltados às produções desenvolvidas nos lotes – como é o caso do cultivo do café, da pimenta, e de outras fruticulturas.

“Essa escola é uma ferramenta pedagógica dentro desses territórios do Extremo Sul. Ela surge para poder contribuir na construção da agroecologia e da agrofloresta,  no debate da produção de alimentos saudáveis, assim como a formação nesse viés da agroecologia de sem terra, indígenas e povos originários tanto desse território, aqui no estado da Bahia, como de fora, de outros países”, contou  Eliane Oliveira, da direção nacional do MST, na Bahia.

Apoio político

A escola estava no roteiro da diligência da CPI do MST ao longo da última semana. Mas, de última hora, os parlamentares mudaram o roteiro e descartaram as áreas indicadas pela própria militância do movimento.

O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, participou do evento e destacou a relevância do conhecimento para o desenvolvimento da agricultura.

“Essa escola vai ser um centro de debate sobre o fortalecimento da agricultura familiar. Vai ser possível debater bioinsumos, energia solar, cooperativas e agroindústria”, afirmou o ministro, relembrando que a escola cumprirá um papel de apontar os caminhos sobre como a agricultura pode “absorver as mudanças tecnológicas”.

Ele também criticou a narrativa dos integrantes da CPI do MST, de questionar as condições de vida dos assentados e tentar “denunciar” supostas desigualdades entre os trabalhadores.

“A CPI esteve aqui. Foi na casa da Juliana e disse que a casa dela é bonita, tem carro, planta café, pimenta e cacau. Se para eles isso é problema, para nós é virtude”, afirmou Teixeira, provocando a CPI a destinar recursos para a reforma agrária.

O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, também participou do ato político e comemorou a ampliação da escola.

“A construção tem duas vertentes. A construção física dos alojamentos, do refeitório, das salas de aulas e laboratórios, das casas dos professores e professoras, mas há uma construção que não diz respeito a essa obra. É uma construção que diz respeito a um novo modelo de desenvolvimento. Nós estamos falando de uma descolonização brasileira. Descolonizar o povo brasileiro significa dar as condições de raciocínio, de capacidade critica, de análise. É esse o projeto que o MST traz nessa data de hoje”

Jacques Wagner (PT), ex-governador da Bahia e atual líder do governo no Senado, recordou a trajetória travada pelo MST para erguer a escola.

“Para construir uma coisa boa, não acontece da noite para o dia. Isso foi luta de muita gente, dos governos meu e do Rui, agora do Jerônimo, de vocês do MST. E eu creio que esse lugar aqui será também um farol para algumas mentes fechadas entenderem que o MST não é um movimento da violência. Ele é um movimento que evita a violência no campo e na cidade”, afirmou.

A festa de inauguração dos novos setores da escola foi prestigiada por 4 mil pessoas e recebeu visitas de integrantes do MST do Brasil inteiro e apoiadores, como o ex-jogador e campeão do mundo pela seleção brasileira, Raí.

“Estou aqui para aprender com vocês e conhecer melhor. Eu estou também como ativista da educação. A revolução, a verdadeira revolução, vem da educação e do exemplo de vocês”, afirmou o ex-atleta.

Participaram do ato o presidente do INCRA Cesar Fernando Schiavon Aldrighi, os deputados federais Nilton Tatto (PT-SP), Marcon (PT-RS), a deputada federal e presidenta do PT Gleisi Hoffmann, o deputado Federal Valmir Assunção(PT-BA), a Secretária Nacional de Diálogos Sociais e Articulação de Políticas PúblicasKelli Maffort, o superintendente regional do Incra na Bahia, Carlos José Barbosa Borges, João Paulo Rodrigues, da direção nacional do MST e Gilvan da Silva Santos, prefeito de Prado

A região segue comemorando os dez anos da escola ao longo do final de semana. Neste domingo (27), estão previstas atividades como café da manhã camponês, trilha agroecológica, culto ecumênico e a feira da Reforma Agrária.

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