“Eu tomo aspirina para não sentir as dores do mundo”- ouvi essa frase outro dia de uma amiga de trabalho e na hora eu não soube exatamente o que pensar. Mas aquilo mexeu muito comigo.
Eu voltei para casa pensando em quantas e quais são as formas que o mundo tem de nos provocar dores e de nos adoecer. E por que que as coisas do mundo são capazes de fazer isso conosco.
Eu voltei para casa pensando no rosto da minha amiga enquanto falava que tomava aspirina todos os dias para não sentir as dores do mundo.
Voltei pensando em quantas dores o mundo já me causou e quantas vezes foram necessárias fazer a ingestão de aspirina ou de qualquer outro medicamento semelhante para que as elas não me atravessassem.
Fiquei pensando também que para muitas dores que o mundo nos empurra goela abaixo não há remédio, porque não há remédio ainda para todas as suas formas.
Não há remédio para dores da alma. Pode até haver acompanhamento, pode até haver uma tentativa de entendimento, pode haver uma possibilidade de nos sentirmos melhores com elas. A ciência (psicológica e/ou psiquiátrica) ou outras ciências correlacionadas a tantas questões da humanidade podem até servir como paliativos, como esparadrapos, como “band-aids” para algumas.
Porém, para outras não há cura, para algumas não há analgésico, para certas dores não há remédio.
Voltei para casa pensando em todos os seus tipos: as físicas, as da alma, as da consciência, as dos afetos, dos (des)amores, as das (des)amizades, as das mães, dos pais, as dores das mulheres, sobretudo…
Fquei pensando que somos nós, as mulheres, quem, de uma forma geral, mais sentimos dores. Carregamos, suportamos, buscamos paliativos ou tentativas de cura para as inúmeras delas, para as dores superficiais e as mais profundas (nossas e alheias).
Fiquei pensando que todas nós, todos nós, não sabemos mensurar, as dores do outro. Nós não temos noção do quanto uma dor o atravessa . Não há como mensurar.
Sabemos das nossas e elas não são parâmetros para medirmos as dores alheias. Isso é um grande perigo: tentar medir a dor do outro pela nossa, pelas nossas dores.
As intensidades com que elas nos impactam, a forma como nós as encaramos, como nós conseguimos driblá-las, amenizá-las, ou ainda e até curá-las não se aplicam as dores que não nos pertencem.
Não sei quanto de aspirina precisamos tomar para que nossas dores se esvaíam. Não sei dizer se precisamos tomar aspirina todo dia para que a gente não sinta as dores do mundo.
Não sei se minha amiga, tomando aspirina todos os dias, consegue que as dores do mundo não a atinjam mais. Não sei se realmente há remédio algum para dor alguma.
Enquanto isso, choro, tomo uma aspirina, tomo um banho e me deito, sentindo a dor de não saber como curar a dor da minha amiga.