Em novembro de 2021, quando foi aplicada a prova Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), um dos componentes que formam o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), as escolas do Rio Grande do Norte estavam começando a retomar suas aulas presenciais, mas enfrentavam a alta evasão escolar que cresceu com os diversos problemas provocados pela pandemia da covid-19. Um ano depois, as aulas já se normalizaram, mas o desafio de trazer de volta os alunos permanece e se estenderá para o próximo ano, após as eleições.
Ainda não há dados consolidados sobre os alunos ausentes, mas o Secretário Estadual de Educação e Cultura (SEEC), Getúlio Marques, declarou que as informações que chegam das escolas preocupam. “Estamos muito preocupados porque, pelo que já temos sondado, ainda não conseguimos retomar ao nível de 2019”, disse ele.
Os dados da SEEC mostram que no ano pré-pandemia, a evasão escolar no estado ficou em 7,5%. Em 2020, devido à aprovação automática dos estudantes, em virtude da pandemia que obrigou a paralisação das aulas presenciais, esse percentual caiu para quase zero, ficando em 0,06%. O reflexo disso se viu em 2021, quando o índice alcançou 14,4%.
Os motivos que possivelmente explicam essa ausência dos alunos nas aulas não diferem do apontado para o período pandêmico. “As causas, claro que não são científicas porque a gente não tem a pesquisa, mas o senso comum, o que dizem nas escolas, é que as famílias perderam a condição econômica até de mandar o filho para a escola. Tem escolas onde a presença mantém-se muito boa, mas eu tenho escolas que a evasão está acima de 30%. Aí a gente tem que ter o transporte escolar, merenda… e a merenda da gente só tem almoço quando é aluno integral”, disse o secretário.
Ele garante que a merenda escolar está em dia, mas o valor ainda está abaixo do necessário, mesmo com o complemento do Governo do Estado de 46 centavos por aluno. O Governo Federal envia através do Ministério da Educação, 36 centavos para a merenda.
A estratégia da Busca Ativa, plataforma disponibilizada pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) para identificar e localizar os alunos ausentes, possibilitando a elaboração de estratégias para atraí-los de volta à escola continua funcionando, de acordo com Getúlio Marques. “Encontra o aluno, mas não está conseguindo trazê-lo de volta, traz apenas uma parte deles. Os alunos deixam de ir para a escola, por condições de saúde, vulnerabilidade econômica, então entram nesse trabalho os municípios e as ações são nas áreas da saúde, educação e assistência social”, complementa.
Mas o Governo também aponta outras estratégias. Uma delas é fortalecer a assistência estudantil através de um projeto junto à Secretaria da Juventude, mas que só deve ser efetivado em 2023. “Consiste em uma bolsa para os alunos, numa ajuda de custo para o aluno em situação de vulnerabilidade poder chegar à escola. Outra coisa que a gente está fazendo muito importante é adotar um sistema que nós estamos trabalhando com o IFRN e com a Secretaria Estadual do Piauí para a gente ter a informação online e imediata sobre a ausência do aluno”, revelou Getúlio Marques.
Nesse sistema, ele diz que a falta será investigada no mesmo dia e também será possível saber o tamanho exato do abandono escolar. “Se o aluno não chegar hoje na escola, soa o alerta e alguém já deverá procurar saber o que aconteceu com esse aluno que o fez faltar a aula”, disse o secretário de educação.
Evasão comprometeu resultado
Somente 13 das 300 escolas da rede estadual de ensino potiguar foram avaliadas no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) e isso ocorreu porque apenas escolas que tivessem partir de 80% dos estudantes presentes poderiam aplicar a prova Saeb, que junto à média de aprovação dos estudantes ajuda a formar a nota do Ideb. O resultado foi assustador. O Estado atingiu a menor nota do Ensino Médio público (2,8 pontos) entre todas as unidades federativas do País.
O retorno do ensino presencial na rede estadual do RN começou em julho, de forma gradual, mas somente em outubro a volta de 100% dos estudantes. “Todos foram convocados para realizar a prova, mas não tinha 80% dos alunos, então não foi contabilizada. Naquele momento, a gente tinha retornado 100% das aulas presenciais, mas de forma escalonada e ainda com a opção do ensino remoto. Ou seja, no mesmo dia não havia 100% das turmas e dessas ainda havia a ausência”, disse o secretário.
Outro fator que influenciou foi a a aprovação compulsória que outros estados adotaram, mas no Rio Grande do Norte os alunos precisaram fazer avaliação. Com isso, os outros estados apresentaram médias entre 90% e 100% de aprovação, distorcendo o resultado final do índice em comparação com os que não adotaram a aprovação automática.
Por outro lado, os números equivocados também apontaram que o estado foi um dos seis estados que evoluíram em aprendizagem em relação a 2019, saltando de 4.03 para 4.09. Porém, o secretário alerta que não se pode aplicar esse mesmo resultado para toda a rede, da mesma forma que não se pode comparar a nota do Ideb com anos anteriores, já que se refere a apenas 13 escolas e em práticas diferentes do que outros estados no momento da avaliação.