Ex-presidente quitou dívida do Brasil com o fundo internacional e tornou o país credor da instituição
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que o Brasil emprestou US$ 15 bilhões ao Fundo Monetário Internacional (FMI) durante seu governo. O empréstimo, na época, porém, foi de US$ 10 bilhões. A declaração foi dada em entrevista à rádio Espinharas, da Paraíba, em 15 de março.
Na ocasião, o ex-presidente ainda comparou a inflação, a taxa de desocupação, a dívida pública interna e as reservas internacionais no início de sua gestão com aquelas apresentadas ao final do seu segundo mandato.
Ao falar sobre a taxa de desemprego durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff, Lula apresentou dados distorcidos. Ele usou os resultados do final do primeiro mandato da petista, em 2014, e não de quando ela deixou o poder, em 2016.
O ex-presidente também errou ao dizer que, antes de seu governo, o país não tinha tido reservas internacionais.
O que Lula afirmou
“Quando cheguei à Presidência, em 2003, o Brasil devia US$ 30 bilhões para o FMI. O Brasil não tinha dinheiro para pagar suas importações. O Brasil, na verdade, tinha uma dívida pública interna de 65%. O Brasil não tinha um dólar de reserva internacional, a inflação estava em 12%, e o desemprego, em 12%. Olha o que nós fizemos! Nós consertamos este país, a inflação ficou em 4,5%, que era a meta que estabelecemos, o desemprego chegou no final do mandato da Dilma a 4,3%. Era o menor desemprego da história deste país. A gente reduziu a dívida de 65% para 32%, a gente, que nunca tinha tido reserva, fez uma que hoje está em US$ 372 bilhões, US$ 370 bilhões, que é uma espécie de poupança que dá estabilidade a este país, e ao mesmo tempo nós pagamos o FMI e ainda emprestamos US$ 15 bilhões de dólares para o FMI”
O empréstimo ao FMI
Ao mencionar a dívida com o FMI, Lula se refere a um débito de aproximadamente US$ 30,4 bilhões contraído pelo Brasil em outubro de 2002, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Segundo a instituição, os principais candidatos à Presidência naquele ano se comprometeram a manter os contratos e a política de austeridade fiscal impostas, incluindo o petista.
Em 2005, o governo Lula quitou todas as dívidas com o FMI. Quatro anos depois, o Brasil emprestou dinheiro à instituição pela primeira vez na história. O valor, porém, foi de US$ 10 bilhões ― e não de US$ 15 bilhões, como citado pelo ex-presidente. Corrigindo o valor em dólares pela inflação acumulada desde outubro de 2009, ano do empréstimo, a quantia chega a US$ 13,3 bilhões.
A taxa de inflação
Em relação aos dados macroeconômicos, quando o petista assumiu o governo, o Brasil tinha uma inflação de 12% e uma taxa de desocupação de 11,7%, que conferem com sua fala.
No final do seu segundo mandato, em 2010, o Instituto Brasileiro de Estatísticas (IBGE) registrou uma inflação de 5,91%.
Lula disse que “a inflação ficou em 4,5%”, mas não mencionou o período. A taxa mais próxima desse patamar foi medida pelo IBGE em 2007, quando o país teve uma inflação de 4,46%. Ela já ficou abaixo disso durante o governo do petista: em 2006, foi de 3,14%, e em 2009, de 4,31%. Em todos os outros anos de seu governo, o IPCA ficou acima de 5%.
O índice de desemprego
O ex-presidente afirmou ainda que o desemprego chegou a 4,3% no final da gestão de Dilma Rousseff, sua sucessora. O dado se refere, na verdade, ao desemprego de dezembro de 2014, no final do primeiro mandato da petista. Segundo o IBGE, o número, também registrado em dezembro de 2013, foi o menor de toda a série histórica mensal, iniciada em março de 2002.
Ainda em 2014, a taxa média de desocupação foi de 4,8% no ano, a menor desde o início da série histórica anual, que teve início em 2003.
Após a reeleição de Dilma, em 2014, o desemprego aumentou progressivamente. Em 2016, ano em que a presidente foi retirada do cargo por meio de um processo de impeachment, o IBGE registrou uma taxa de desocupação de 11,5%.
As reservas internacionais
Durante a entrevista, Lula afirmou também que o Brasil “não tinha um dólar de reserva internacional” quando assumiu o governo. Segundo o Banco Central, no final do governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 2002, o país tinha U$ 37,823 bilhões em reservas cambiais.
O número corresponde a cerca de 13% daquele apresentado no final do segundo mandato do petista, em 2010. O valor era de U$ 288,822 bilhões.
A dívida pública
Lula disse que seu governo reduziu a dívida de 65% para 32%. Em dezembro de 2002, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a dívida pública do Brasil total estava em cerca de 59,93% do Produto Interno Bruto (PIB). O débito diminuiu para 37,98% em dezembro de 2010.
Em números absolutos, a dívida interna do país aumentou no mesmo período. Dados do Banco Central mostram que houve um salto de R$ 892 bilhões para aproximadamente R$ 1,475 trilhão. Embora a dívida tenha caído proporcionalmente, o débito aumentou. Isso é possível devido ao aumento do PIB, que passou de R$ 1,488 trilhão para R$ 3,885 trilhões, ainda segundo o Banco Central. Os números desconsideram a inflação acumulada dos últimos oito anos.