O clique do raio fulminante no Cristo Redentor foi o fim de uma caçada de mais de um ano para o desenvolvedor de softwares Fernando Braga. O registro do relâmpago, que na noite da última sexta-feira (10) danificou holofotes e equipamentos do Santuário, viralizou e correu o mundo.
Fernando Braga contou que toda vez que chovia montava o equipamento. Imagem da última sexta-feira (10) correu o mundo.
“Foram inúmeras tentativas, não sei dizer quantas, desde o final de 2021”, contou Fernando ao g1. “Não é toda vez que tem trovoada, nem sempre eu estou em casa. Mas se eu estiver, eu tento”, emendou.
Fernando disse que faz esses cliques por hobby. “Eu não me considero um fotógrafo. Tem que ter uma visão artística. Eu gosto da parte técnica — e aí eu pratico”, destacou.
Dano ajudou a imagem
O Santuário Arquidiocesano Cristo Redentor informou que a descarga elétrica queimou parte das luzes do alto do Corcovado, como os holofotes de LED apontados para a estátua e as lâmpadas da Capela Nossa Senhora Aparecida, dentro da base do monumento.
Mas esse dano, segundo Fernando, foi fundamental para que seu registro saísse “perfeito”.
“Na hora que tirei a foto, eu já percebi que tinha dado algum problema na iluminação do Cristo”, contou o fotógrafo.
“Nas configurações que eu usei, [com o raio] o Cristo ficaria todo branco, não teria tanto detalhe. Mas deu algum problema na iluminação que diminuiu o brilho, e isso ‘salvou’. A estátua ficou perfeita [na imagem]. Eu acho até uma coisa divina”, explicou.
Como foi feita a foto
Fernando mora no Flamengo, na Zona Sul do Rio, “a 4 km mais ou menos de distância do Cristo”.
Quando viu que a probabilidade de uma tempestade com raios na sexta, ele armou o tripé e apontou a câmera para o Redentor.
“Peguei a máquina, programei a captação de luz e deixei fotografando continuamente”, disse. Para fazer a longa exposição, cada foto teria 13 segundos de obturador aberto.
“Ela tira 13 segundos, depois ela tira outra foto de 13 segundos… fica assim toda hora, em sequência. Então, se cair um raio, vai captar”, detalhou.
Naquele temporal, “foram mais ou menos 500 fotos”. “Eu não fico ali toda hora olhando a máquina. Vou de vez em quando, para ver se a configuração está adequada”, contou.
Fernando aproveita essas checadas para ver o rolo da câmera, “sempre de trás para frente”. E o primeiro registro daquele temporal que chamou a atenção foi o de um relâmpago batendo em uma das antenas do Sumaré.
“Mas cortou parte da foto, porque o enquadramento estava muito fechado, e perdi parte do raio. Fiquei chateado para caramba na hora, mas eu continuei olhando as fotos”, narrou.
“Cheguei nessa foto do raio, a minha insatisfação acabou imediatamente!”, lembrou.
Estátua escapou ilesa
Na manhã deste domingo (12), uma equipe, incluindo alpinistas, fez uma avaliação para identificar possíveis danos causados à estrutura do monumento ao Cristo Redentor.
“A inspeção constatou que não houve dano ao monumento”, afirmou o Santuário.
Novos para-raios
Em 2015, foi diagnosticado que o sistema de proteção contra descargas atmosféricas no Cristo não garantia sua integridade, representando sério risco à estrutura.
Uma adequação foi realizada em 2021, com a instalação da nova coroa com dimensão quatro vezes maior que a antiga, além de captores e aterramento mais robustos.
“Depois do susto, a certeza de que o esforço realizado diariamente pela Arquidiocese e sua equipe técnica está na direção correta para garantir a preservação da integridade do Cristo Redentor diante do constante desafio cobrado pelo tempo e pela exposição junto à natureza”, destacou o engenheiro João Racine.
“Nosso símbolo maior, atingido por fortes descargas elétricas, mostrou-se resistente mais uma vez. De forma recorrente atingido por todo tipo de intempéries climáticas, permanece iluminando o céu, resiliente, acolhedor e solidário como cada brasileiro”, afirma o reitor do Santuário Arquidiocesano Cristo Redentor, Padre Omar.