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Honduras rompe relações com Taiwan e retoma diplomacia com China

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Honduras estabeleceu relações diplomáticas formalmente com a China e as cortou com Taiwan, encerrando um relacionamento de décadas e desferindo o mais recente golpe na ilha democrática autogovernada em sua luta por reconhecimento.

“O governo da República de Honduras reconhece a existência de uma China no mundo e que o governo da República Popular da China representa a China como um todo”, disse o Ministério das Relações Exteriores em comunicado.

“Taiwan é uma parte inalienável do território chinês e, a partir de hoje, o governo de Honduras informou Taiwan sobre a ruptura das relações diplomáticas”, acrescentou.

A China, que vê Taiwan como parte de seu território, apesar de nunca tê-lo governado, se recusa a manter relações diplomáticas com qualquer país que reconheça Taiwan.

O governo chinês passou grande parte dos últimos 40 anos tentando isolar a ilha autogovernada, destruindo seus aliados diplomáticos com ofertas de apoio econômico.

Até agora, Honduras era um dos 14 países que ainda reconheciam diplomaticamente Taipei. Logo após o anúncio de Honduras, Taiwan confirmou que os laços haviam sido formalmente cortados.

“Para salvaguardar a soberania e a dignidade nacional, decidimos cessar imediatamente as relações diplomáticas com Honduras e suspender todos os planos de cooperação bilateral”, pontuou o chanceler Joseph Wu em entrevista coletiva, acrescentando que Taiwan está pedindo a Honduras que feche sua embaixada em Taipei.

A China também confirmou a medida, ressaltando que assinou um “Comunicado Conjunto sobre o Estabelecimento de Relações Diplomáticas” com Honduras.

“Os dois governos (da China e de Honduras) decidiram se reconhecer e estabelecer relações em nível diplomático, a partir da data de assinatura deste comunicado”, observa nota do Ministério das Relações Exteriores da China.

“Existe apenas uma China no mundo e o governo da República Popular da China é o único governo legal que representa toda a China. Taiwan é uma parte inalienável do território da China”, acrescentou.

A presidente hondurenha, Xiomara Castro, havia anunciado em 14 de março que a mudança era iminente.

Castro, uma socialista democrática que obteve uma vitória esmagadora em 2021, havia dito em seu manifesto de política externa antes da votação que o país centro-americano estava tentando estabelecer relações diplomáticas com Pequim.

O Partido Comunista da China não descartou o uso da força para um dia tomar Taiwan. Sob o comando do líder Xi Jinping, o país aumentou a pressão militar, diplomática e econômica na ilha, inclusive atraindo os aliados de Taipei para mudar sua lealdade.

Perdendo o reconhecimento

Taiwan tinha 56 aliados diplomáticos quando perdeu o reconhecimento das Nações Unidas, em 1971. Esse número caiu para 22 quando a atual presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, assumiu o cargo, em 2016, e continuou a cair nos anos seguintes.

A maioria dos aliados restantes são agora pequenas nações na América Latina e no Pacífico, com todas as economias mais poderosas do mundo mudando o reconhecimento para Pequim décadas atrás.

A China está usando seu enorme mercado como ferramenta para eliminar o apoio restante, em uma abordagem que muitos especialistas chamam de “diplomacia do dólar”.

Quando as Ilhas Salomão mudaram o reconhecimento diplomático para Pequim em 2019, o país do Pacífico recebeu US$ 8,5 milhões em fundos de desenvolvimento da China para fazê-lo, segundo a Reuters.

O Paraguai, o maior país entre os aliados diplomáticos remanescentes de Taiwan, por outro lado, enfrentou restrições na exportação de soja e carne bovina para a China.

Seu presidente, Mario Abdo Benítez, pediu abertamente a Taiwan que investisse US$ 1 bilhão em seu país no ano passado para que pudesse continuar resistindo à “enorme” pressão sobre o abandono da aliança.

“A ascensão da China se tornou um grande desafio para nossa diplomacia”, ressaltou recentemente à CNN Johnny Chiang, parlamentar do partido de oposição Kuomintang, de Taiwan, e membro do Comitê de Defesa Nacional e Estrangeira do parlamento.

Ele disse que a ilha está optando cada vez mais por não igualar a “diplomacia do dólar” da China – preferindo enfatizar valores compartilhados, como a democracia.

Efeitos da perda de apoio

Os analistas divergem quanto ao significado que atribuem à perda de aliados de Taiwan. Alguns dizem que os relacionamentos oficiais são valiosos, mas apenas até certo ponto.

Ter aliados oficiais ajuda a dar voz a Taiwan na comunidade internacional. Em outubro passado, por exemplo, 10 dos aliados diplomáticos de Taiwan assinaram uma carta ao secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, para criticar a exclusão de Taiwan pela ONU.

Ainda assim, a maioria de seus aliados restantes é relativamente pequena e tem influência limitada no cenário mundial.

“Eles têm voz na Assembleia Geral da ONU, mas seus números são insuficientes para influenciar os demais, que frequentemente votam a favor de Pequim”, disse J. Michael Cole, consultor sênior do Instituto Republicano Internacional baseado em Taipei.

Mas outros dizem que a influência global de Taiwan está crescendo, apesar da perda de aliados.

Por exemplo, o relacionamento não oficial de Taiwan com os Estados Unidos – que retirou o reconhecimento diplomático de Taipei em 1979 – parece para muitos tão forte quanto nas últimas décadas.

A falta de laços diplomáticos não impediu a então presidente da Câmara, Nancy Pelosi, de fazer uma controversa visita à ilha em agosto – à qual a China respondeu com raiva, realizando exercícios militares sem precedentes e disparando mísseis sobre a ilha.

Isso também não dissuadiu o atual presidente da Câmara dos EUA, Kevin McCarthy, de planejar um encontro com Tsai no início de abril, quando ela deve transitar pelos Estados Unidos a caminho da América Central, em outra viagem que deve irritar a China.

Especialistas apontam que os Estados Unidos continuam sendo o maior garantidor da segurança da ilha diante de uma possível invasão da China, e que os EUA fornecem armas a Taiwan todos os anos – ambos sem uma relação diplomática “oficial”.

Eles também apontam que as nações do G7 (EUA, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão e Reino Unido) foram rápidas em expressar preocupações após os exercícios militares após a ida Pelosi à China.

O papel de Taiwan como líder global no fornecimento de chips semicondutores – necessários para alimentar tudo, desde laptops a armas avançadas – também o torna um importante parceiro comercial para muitas democracias ocidentais.

Como Lev Nachman, professor assistente de política na Universidade Nacional de Chengchi, disse recentemente: “Os aliados diplomáticos de Taiwan oferecem apoio significativo a Taiwan, como permitir que visitas oficiais aconteçam. Mas muitas vezes perguntamos, se um dia Taiwan não tiver nenhum aliado diplomático formal, o que realmente mudaria? E a resposta não é muito”.

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