Decisão foi tomada durante reunião da bancada do PL no Senado e anunciada pelos líderes do governo
Numa ofensiva contra o Judiciário, o PL, partido do presidente Jair Bolsonaro (PL), bateu o martelo nesta quarta-feira 7 sobre a candidatura do senador eleito e ex-ministro do Desenvolvimento Regional Rogério Marinho (PL-RN) para enfrentar Rodrigo Pacheco (PSD-MG) na disputa pela presidência do Senado.
A decisão foi tomada durante reunião da bancada do PL no Senado e anunciada pelos líderes do governo, Carlos Portinho (PL-RJ), e do PL, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Os três estavam ao lado do senador eleito Jorge Seiff (PL-SC), ex-secretário da Pesca, e do deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), presidente da bancada evangélica.
Como mostrou a coluna Painel, da Folha de S.Paulo, a insistência do presidente do partido em lançar um nome para o Senado passa pelo confronto com o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. Valdemar Costa Neto foi convencido de que não adianta tentar enfrentá-lo na esfera jurídica e pretende se valer dos canais políticos para, de acordo com um interlocutor, manter a espada sobre a cabeça do ministro.
Marinho afirmou nesta quarta que sua candidatura “não é contra ninguém” e não citou o nome de Moraes, mas disse que o PL não aceita que deputados sejam “amordaçados”. Marinho usou a expressão popular “pau que bate em Chico bate em Francisco” e afirmou que não deve haver “ativismo” nem “criatividade judicial”.
“Nós respeitamos e defendemos a democracia. Nós, por exemplo, não aceitamos o fato de que hoje no Brasil nós temos dez deputados federais que estão literalmente amordaçados. Que tiveram retirada a sua possibilidade e a sua condição de se comunicar com seu eleitorado através de um instrumento que é corriqueiro para todos nós, que são as redes sociais”, afirmou Marinho.
Dez deputados federais bolsonaristas tiveram suas contas no Twitter suspensas, e atribuem a decisão ao ministro, que é relator do inquérito que apura o financiamento e a organização de atos antidemocráticos, além da ação de milícias digitais. Estão na lista as deputadas Carla Zambelli (PL-SP) e Bia Kicis (PL-DF).
“Nós não somos candidatos contra ninguém, nós somos candidatos a favor do Brasil, da democracia e da Constituição. Cada um dos Poderes que a nossa Constituição define tem, claramente, a sua vocação. O que nós queremos, o que nós pretendemos, o que nós defendemos é que cada Poder cumpra o seu papel, cumpra a sua missão. Isso, aliás, restabelece o equilíbrio da democracia brasileira.”
O incômodo com a presidência de Rodrigo Pacheco foi reforçado por Flávio Bolsonaro. O senador afirmou que Pacheco é um “gentleman” [cavalheiro], mas que o Senado está completamente “entregue”, e “deixou de defender até as prerrogativas parlamentares mais vitais, mais sagradas”.
“A candidatura do Rogério Marinho não é contra ninguém, não é ameaçando ninguém, pelo contrário. As falas que eu tenho feito de maneira pública são exatamente no sentido inverso, de buscar a normalidade, de buscar o reequilíbrio, de buscar interdependência entre os Poderes”, disse Flávio.
“Ninguém tem nada contra a pessoa física do atual presidente. Ele é um gentleman [cavalheiro], um cara super inteligente, que atende bem os senadores, não está se discutindo isso. A discussão é sobre algo maior. A gente tem obrigação de dar um retorno para essas pessoas que estão nas ruas ou que não estão nas ruas, mas também não concordam com o rumo que o Brasil está tomando.”
O PL terá a maior bancada do Senado a partir do ano que vem com 14 dos 81 senadores. O senador Chico Rodrigues (União Brasil-RR) participou da reunião desta quarta e estuda mudar de partido –neste caso, a bancada poderá chegar a 15 cadeiras. A segunda maior bancada será do PSD, partido de Pacheco, com 11.
Marinho conseguiu não só o apoio de Valdemar, mas também de Bolsonaro. De acordo com interlocutores, Bolsonaro é um dos principais defensores de que o PL lance um nome para se contrapor a Pacheco. O senador eleito afirmou que o presidente “continua ativo”. Flávio disse que o pai vai seguir sendo “um grande ator político, se não o maior ator político” dos próximos quatro anos.
O PL espera o apoio formal do Progressistas e do Republicanos, que terão seis e três senadores no ano que vem, respectivamente. Caso o apoio se confirme, os três partidos terão, no mínimo, 23 votos. Já Pacheco deve contar com o apoio de boa parte dos partidos que estarão na base do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como MDB, e PSB e Rede.
Apesar disso, até mesmo senadores do PL afirmam reservadamente que Pacheco é favorito à reeleição. Marinho é visto como um político mais moderado, mas pesa contra ele o fato de ser novato na Casa. Para alguns integrantes da bancada, o partido pode propor o nome de Marinho apenas para marcar posição contra o Judiciário.
Há ainda uma preocupação de que o lançamento de uma candidatura que pode não ter sucesso fará com que o maior partido da Casa acabe sem nenhuma comissão ou cargo importante -essa negociação fica restrita ao bloco vencedor.
Por outro lado, quem defende a candidatura de Marinho afirma que o senador recém-eleito é “novato” apenas no Senado, mas não na política, já que passou mais de dez anos na Câmara dos Deputados –onde foi relator da Reforma Trabalhista– e ex-ministro.
O nome da senadora eleita e ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina (PP-MS) também apareceu nas conversas como alternativa a Pacheco. O PL, no entanto, não quer abrir mão de um candidato próprio, e a ex-ministra sinalizou que não pretende deixar o partido.
A indicação de um nome do Progressistas para a presidência do Senado esbarra hoje na presidência da Câmara dos Deputados, que já é da sigla. A avaliação do governo atual e do governo eleito é de que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), vai conseguir continuar no cargo por mais dois anos sem grandes dificuldades.