Victor Sorrentino também foi acusado de prática ilegal de medicina em Portugal; Paulo Pimenta entregou vídeo dele e da médica Roberta Zaffari à PF
O médico bolsonarista Victor Sorrentino, o mesmo que ficou preso no Egito em 2021 por assédio sexual, é acusado de espalhar fake news sobre a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O ministro da Comunicação Social, Paulo Pimenta, entregou nesta quinta-feira (9), à Polícia Federal (PF), um vídeo em que o médico, que tem 1,3 milhão de seguidores afirma que aviões privados, “em três aeroportos, carregados de medicamentos”, não conseguiam decolar por causa da “burocracia da Anvisa”.
Pimenta também entregou à PF vídeos com mensagens semelhantes feitos pela dermatologista Roberta Zaffari Townsend. Nas imagens, ela afirma a seus 33,5 mil seguidores no Instagram que ela e “colegas médicos” passavam pela “mesma situação”: tinham conseguido “aviões particulares” com “amigos” que estavam doando remédios, mas que os mesmos não chegavam ao estado por causa da burocracia da Anvisa.
“Por favor, Anvisa, libera essas medicações. A gente precisa salvar vidas de pessoas”, diz a médica.
Veja o vídeo de Sorrentino abaixo:
Os vídeos circularam de maneira descontrolada. O fato obrigou a Anvisa a emitir uma nota oficial nesta quarta-feira (8), desmentindo a existência de qualquer tipo de proibição relacionada à entrada de medicamentos doados para auxiliar as vítimas do desastre.
Veja a nota abaixo:
“É falso o vídeo que está circulando nas redes sociais sobre a Anvisa estar proibindo a entrada de medicamentos doados para atender as vítimas da calamidade provocada pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Fake News é crime. Informe-se antes de repassar!”, alertou o perfil oficial da Anvisa no X, antigo Twitter.
A nota de esclarecimento também foi publicada no site da Anvisa, reforçando que a agência não efetuou qualquer restrição ao transporte de medicamentos à região. “Vale ressaltar que a Anvisa faz parte da Comissão Nacional de Autoridades Aeroportuárias (Conaero), por isso, é nossa rotina o contato direto com as companhias áreas e vice-versa. Temos canal direto de comunicação. Além disso, a Anvisa participa também do Centro de Operações de Emergência (COE), coordenado pelo Ministério da Saúde para definir ações diante da emergência no estado.”
Denúncia de assédio
Sorrentino foi preso no Egito em 2021 após publicar nas redes sociais um vídeo fazendo uma “piada” misógina e assediando uma mulher muçulmana.
A funcionária de uma loja explicava a ele como são produzidos os papiros, materiais semelhantes ao papel utilizados pelos antigos egípcios para escrever. “Elas gostam é do bem duro. Comprido também fica legal, né?”, disse o médico à atendente, aos risos. “O papiro comprido”, completou.
Momentos antes de ser preso, o médico gravou um vídeo chorando. O Ministério Público do Egito acusa Sorrentino de assédio sexual verbal, violação da vida privada e violação dos princípios e tradições familiares da sociedade egípcia.
Medicina ilegal
Segundo reportagem de Giuliana Miranda, na Folha de S.Paulo, também em 2021, Sorrentino oferecia consultas em Portugal sem ter o diploma de medicina validado no país europeu. Cada consulta, de acordo com a reportagem, custava até 350 euros, o que equivalia na época a cerca de R$ 2.100.
Sorrentino divulgava seus atendimentos em Lisboa e no Porto por meio de suas redes sociais. Além disso, segundo a reportagem, o médico tinha uma área em seu site dedicada para o agendamento de consultas no país europeu. A página foi tirada do ar após questionamentos.
A Ordem dos Médicos, entidade que regula o setor, confirmou que Sorrentino não está entre os profissionais registrados em Portugal. Com isso, ele não pode exercer a medicina no país.
Além de oferecer consultas ilegais no exterior, o médico se promovia nas redes sociais como cirurgião plástico. Contudo, a especialidade não consta em seus registros profissionais. O cadastro de Sorrentino no Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) e no Cremers (Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul) consta com “especialidade não definida”.