O poeta Manoel Fernandes, o Volonté, faleceu na tarde desta segunda (11), após duas paradas cardíacas. A notícia foi confirmada por amigos, que vinham acompanhando o estado de saúde dele. Volonté era um intelectual, apaixonado por cinema e literatura, que escrevia poesia.
“Conheci Volonté nos anos 1970, no começo da Galeria do Povo, na Praia dos Artistas. Nas primeiras exposições ele chegou e permaneceu. Na época, ele vinha do movimento do Cineclube Tirol, onde sofreu um certo preconceito, como se fosse de uma cultura menor por ser pobre. Ele foi acolhido na Galeria, gostou do movimento e começou a participar. Ele se impôs intelectualmente na vida, era uma pessoa muito querida, também instável, se incompatibilizava por coisas bobas, não era pessoa de se relacionar fácil. Tinha muita sensibilidade, mas a vida não é do jeito que a gente quer. Ele não se sentia bem com quem desvalorizava a arte do intelectual, ele comprava livro para ler todo dia”, relata o amigo, escritor e pesquisador Eduardo Alexandre.
A cerca de três semanas Volonté passeava com o cachorro quando foi derrubado pelo arranque do animal.
“Foi numa sexta, estava passeando com o cachorro, que deu um puxão. Volonté caiu, bateu cabeça, mas foi para casa. Foi a irmã dele que percebeu que ele estava estranho e levou para o Walfredo Gurgel. Ele teve um afundamento, uma concussão. Fizeram dois procedimentos, uma para evitar derrame e depois porque o sangramento persistiu, mas acabou sendo controlado. Ele ficou com um lado paralisado e começaram a tratar. O problema é que com os dias de internação ele pegou uma bactéria e desenvolveu pneumonia. Em cinco dias foi transferido para o Hospital Memorial, tentaram controlar, mas não passava. Foi piorando e em mais de três semanas foi intubado três vezes, ele não conseguia respirar sozinho, passou onze dias intubado. Por fim os médicos decidiram extubar e, se não conseguisse respirar, iam fazer uma traqueostomia. Mas a infecção continuou e ele teve duas paradas cardíacas, não conseguiu retornar da segunda”, lamenta o amigo e jornalista Alex Medeiros.
Volonté morava na casa da família, mas tinha tantos livros que foi preciso alugar uma casinha na mesma rua só para guardar os livros do intelectual.
“Era um poeta de vivência com a intelectualidade muito aguda. Caminhava em todas as tribos. Ele frequentava os sebos, conhecia literatura, ele não era de comprar qualquer livro, apear de estar sempre com um na mão. Ele comprava e lia! Ele era um dos leitores mais vorazes que conheci. Ele tinha um conhecimento universal fantástico. Ele saia de casa e percorria a cidade inteira, cada escritório. Certa vez Nei Leandro de Castro escreveu que ele era peripatético, que é o termo para quem anda muito. Volonté era um fuçador, buscava as novidades. Eu gostava da poesia despojada de Volonté, que era um ser sensível em um meio hostil, soube se impor à sociedade natalense. Era uma pessoa extremamente humana, isso fazia com que ele se revoltasse. Ele tinha uma amizade sincera, gostava muito dele, era um querido”, lembra o amigo Eduardo Alexandre.
Alex Medeiros chegou a fazer uma vaquinha entre amigos só para manter o acervo de Volonté guardado até o mês de dezembro, já que a expectativa dos amigos era que ele se recuperasse em breve.
“Às vezes a gente não guarda na memória o dia que conheceu um amigo, mas com Volonté é um dos poucos que sei exatamente o dia e como foi. Estávamos no Cine Rio Grande entre 1978/79. Começamos a participar do Grupo Aluar de Poesia, era um grupo grande, participávamos de recitais, vesperais e Volonté estava sempre com a gente. Depois teve o Festival de Arte do Forte… Estou com um livro novo dele, a última notícia que havia dado a ele era de que o livro estava rodando (na impressão). Agora está pronto, mas ele não está aqui para lançar. O 1º foi lançado em 2014, me 2016 foi o 2º e ficou de fechar a trilogia, mas veio pandemia… Agora é inventar uma data em homenagem a ele para lançar”, lamenta Medeiros.
A família de Volonté também confirmou a morte do poeta e ainda não definiu detalhes do sepultamento.