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Ouro Branco

Não, não pode mais fazer piada !

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Pessoas ficavam quietas, acuadas, intimidades, rindo sem graça quando apontadas de forma direta. As outras, os algozes faziam piadinhas. Eram sobre a cor da pele, a textura do cabelo, os trejeitos afeminados do rapaz, ou masculinos da garota. Chacota gratuita sobre o ananismo, a homossexualidade, a pobreza de alguém. Era racismo, xenofobia, capacitismo, etarismo, transfobia…

Eram constrangedoras, as piadas. Constrangedoras as situações, os contextos, as intenções, a linguagem chula, de baixo calão. Linguagem para deboche, para fazer pouco, para mangar mesmo, como a gente diz aqui no Nordeste.

Anos seguidos de humilhação, de preconceito, de discriminação por raça, cor, sexo, orientação ou identidade sexual, situação econômica, característica física… Nada velado, passava na TV, nos programas de “humor”. (Velado o c@r@lho!!!) Era para ser explícito mesmo. Em roda de conversa com muita gente, em festa de família, em churrasco de domingo, no meio da praça, nos telões de cinema…

A graça estava nisso, em expor o outro. Tornar explícito seus “defeitos”, suas “imperfeições”, suas “incongruências”, suas “dissidências”. Trazer o outro para o centro do picadeiro e fazer disso um show de horrores.

Horrorosas eram essas pessoas. Horrorosas são essas pessoas. As que julgam, as que apontam, as que desfazem das demais. Aquelas que se acham melhores, com mais valor, com mais importância, “sem defeitos”. Horrorosas com seus preconceitos, horrorosas com suas bocas cheias de veneno, de comentários sem valor, depreciativos, prontas para tornar o outro a comédia, a gargalhada compartilhada por seus iguais.

Horrorosas pessoas que fazem piada do que nunca deveria ter tido engraçado ou que nunca deveria ter sido visto como motivo de risos alheios.

Essas pessoas precisam ser reeducadas. Precisam entender que enquanto elas faziam suas pilhérias, havia pessoas que sofriam, que se sentiam mal, que se autodepreciavam, que tinham sua autoestima abalada, que se isolavam, que se escondiam, e que, em uma atitude extrema, se mataram. Elas precisam entender que no tempo presente isso continua ocorrendo. Tudo isso! Mas não deveria.

Essas pessoas precisam ser reeducadas para viver em um mundo plural e diverso e entender que não há padrão de humanidade. Não somos iguais, nunca fomos iguais, nunca seremos iguais… Mas podemos conviver juntos e nos tratarmos com um respeito mútuo.

Elas precisam ser reeducadas para entender que não há mais espaço para se fazer piada sobre o outro. Isso pode configurar mais que uma gracinha, mais que uma “brincadeirinha”… No código penal, boa parte desses discursos configuram crime. E como criminosos/as/es, esses indivíduos devem ser tratados. E se cometeram crime, que sejam elas, essas pessoas horrorosas, as que sejam levadas para o centro, não mais de um picadeiro, mas de uma sala de aula e que suas punições possam servir de ensinamento para seus comparsas.

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