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Ouro Branco

panetone e circo, Papai Noel, calor e ‘neve’ na decoração

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Meus filhos e pessoas queridas que convivem comigo brincam (ou reclamam, talvez) que não sou ligado no tal período natalino, que não celebro, digamos, a data de natal, que não decoro a casa ou preparo nada especial na ceia. Tudo verdade. E um pouco mais.

E olha que tive uma infância cheia de natais felizes. Pais amorosos que davam presentes (com mamãe deixando claro que eram eles que compravam e que Papai Noel não existia), ceia de natal com comidas típicas da “época” (peru, tender, nozes e umas variações à moda de meus pais, como bacalhau , frutas, rosbife, salgadinhos). Tinha até árvore de natal enfeitada com bolinhas, primeiro aquelas árvores kitsch de plásticos, compradas nas Lojas Americanas da Princesa Isabel, depois (mais uma ideia de mamãe) íamos no Parque das Dunas escolher um galho longo para decorar com papel laminado verde, numa espécie de “árvore de natal nordestina”.

Repeti o modelo na infância dos filhotes Pedro e Ananda, com o combo presentes-árvore-decoração natalina. De maneira ainda mais informal, porém, ainda dentro do que se chama de “espírito natalino”. Mas já não entrava na minha cabeça vestir de maneira formal para uma noite em família em pleno calor potiguar, assim como não via mais sentido em emular uma neve que jamais caiu na Cidade do Sol. Quando os filhos cresceram e ganharam seus rumos, não fazia maia sentido a “festa de natal”, por mais momentos felizes que tivesse vivido.

Daí tal qual um Bentinho redivivo e exclusivo no mês de dezembro, comecei minha casmurrice com o natal. Decoração natalina? Em shoppings e lojas acho um horror, brega mesmo. Trenós, neve, renas… não contem comigo para perpetuar essa “tradição”. Inclusive, evito shopping centers e lojas grandes neste período. Mas mesmo lojinhas pequenas e estabelecimentos de bairro encaram nessa vibe. Funcionários com gorro de Papai Noel, então, acho uma desgraça.

De certa forma, minha casmurrice se tornou quase decolonial, para usar uma palavra acadêmica da moda. No natal parece que aflora ainda mais a vontade de ir à praia e curtir o calor, de comer mais comidas regionais. Comprar nozes e castanhas em dezembro só porque é “época natalina”? Nunca mais. Período bom mesmo para safras de banana e caju. O pessoal no supermercado olhando peças de peru e tender que custam o preço de um rim e eu atacando na seção de camarão e peixes.

Inclusive, tão certo quando o show de Roberto Carlos e a exumação da música da Simone, é meu texto com fel e com algum afeto sobre minha birra com o natal. Em 2019, escrevi aqui neste espaço texto com o título “Então é Natal!… O que você fez?” onde refletia sobre o nosso comportamento ao longo do ano em relação à chegada do período de “paz e amor”. Ano passado publiquei o texto “Ah, o natal com boneco de neve, urso polar e calor de 40 graus!” na qual tirava onda justamente com isso, uma decoração natalina europeia em plena Ponta Negra em frente àquele marzão. Na verdade, na cidade que leva o nome da festa apenas repetimos o que é feito em qualquer outra cidade, João Pessoa, Rio de Janeiro, Salvador, com as gestões municipais eternamente presas à ideia de uma decoração que evoque um outro mundo, geográfico (Europa e EUA, onde neva e existem renas) e nostálgico (a infância de todos nós).

E por falar em gestão pública aqui em Natal a prefeitura mais uma mês investiu no tradicional (poderíamos dizer na acomodação) com a política dos Césares romanos de pão e circo (aqui e nessa época seria panetone e circo, digamos) com a decoração brega e luminosa de sempre e shows musicais (também os de sempre). Mas isso nem chega a ser uma crítica, e sim um mero registro. Tanto que eu solto meu fel mas lá estou eu nos shows, como o de Alceu Valença na Praça Cívica na sexta-feira passada. Natal é época do perdão, então o leitor e leitora (como diria Machado de Assis) há de perdoar tanto minhas contradições, como minha bílis. Inclusive a foto que ilustra este texto é a mesma do texto do ano passado, quando minhas críticas à decoração não impediram que eu fosse a Ponta Negra ver as luzes e bater foto com um simpático boneco de “neve”.

O curioso é que cada vez mais as decorações natalinas esquecem o aniversariante da data. Não que eu tenha qualquer preocupação com isso, posto que não-religioso, crítico do cristiano e ateu praticante, mas faz parte da nostalgia os presépios, por exemplo. Hoje, cada vez mais raros. Não surpreende que o Capitalismo tenha escanteado o menino Jesus em prol de Papai Noel, quase um garoto propaganda da Coca-cola. Mas aí é tema para um outro texto. Sem mais casmurrice, Cefas, por favor.

Mas panetone não pretendo comprar, não. Vamos aqui na minha casa de bolo da moça mesmo. E feliz natal em Natal para todos e todas.

Confira o conteúdo original aqui!

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