Nos dias 27 e 28 de maio, Natal sediará o Yamada Poker Tour. O evento é um campeonato de poker idealizado pelo jogador Júlio Yamada. Realizado no Natal Shopping, a disputa se dividirá em duas modalidades, com premiações que podem superar os R$ 25 mil por categoria.
Popular nos Estados Unidos, o jogo está em franco crescimento no Brasil. Segundo Yamada, com base em dados da Confederação Brasileira de Poker, cerca de 10 milhões de pessoas jogam no país e movimenta cifras milionárias, patrocinando astros como o atacante de futebol Neymar e o nadador Xuxa. Ronaldo Fenômeno é outro adepto da modalidade. Em Natal, de acordo com Júlio, é um “número difícil de estimar, mas é em torno de 1000”. “Depois de São Paulo, até antes da pandemia, o Rio Grande do Norte teve a maior arrecadação na história do Campeonato Brasileiro de Poker”, comemora.
Foi pensando nesse potencial que ele tirou o projeto do papel e organizou o Yamada Poker Tour. Para disputar o evento natalense, não precisa passar por um processo classificatório: “basta pagar a entrada do torneio e já pode jogar”, diz o organizador. No esporte, existem cerca de 10 modalidades diferentes. Já no Yamada Poker Tour, duas estarão disponíveis: o evento principal será na categoria Texas Hold’em, com R$ 20 mil garantidos em premiações, enquanto o evento paralelo terá a modalidade Omaha, que dará até 5 mil reais ao vencedor. Para entrar na primeira categoria, o valor a ser desembolsado é de R$ 530. Já para garantir as fichas da segunda, será cobrado R$ 250.
Ele lembra que Natal tem uma tradição recente no poker. Há 15 anos, por exemplo, uma casa de poker se mantém na capital, no bairro de Ponta Negra. Agora, o evento permitirá que novas pessoas conheçam o jogo de cartas. “Tem muito jogador de poker na cidade. E eu nunca vi, pelo menos aqui no Nordeste, um evento de poker dentro de um shopping. Então vai atrair a atenção de muitas pessoas que podem ir lá e jogar”, acredita.
Para Julio Yamada, a Omaha só despontou recentemente, e hoje é a que chama mais atenção daqueles que querem ganhar dinheiro. “Tudo mudou em 2018, quando surgiram outros aplicativos de poker propondo novas modalidades, e o meu time faz parte dessa modalidade nova. Tá ‘pipocada’, só se fala nela”.
As diferenças, segundo ele, estão na arrecadação envolvida. “[A Omaha] tem muito mais dinheiro em jogo. É uma modalidade em que os jogadores recreativos ganham muito mais do que na outra. Então isso atrai muitos [jogadores] recreativos, e tem muito dinheiro rolando. Hoje no Brasil a Liga Suprema (maior liga online do mundo) movimenta mais de 10 milhões de rake [a taxa do jogo]”.
Pioneiro
Julio Yamada tem 27 anos e começou a jogar poker aos 13 anos por influência do pai. Porém, o jogo de cartas não veio somente como diversão. “Não [era] como uma forma de brincar, mas de algum dia ganhar dinheiro”, recorda. Aos 18 anos, começou a apostar e, aos 19, conquistou um torneio europeu sediado em Londres. Na época, em 2014, derrotou cerca de 214 oponentes e levou para casa o prêmio de £11.200 [cerca de R$ 42 mil na cotação atual].
Pioneiro na modalidade Omaha [nesta categoria, o objetivo é combinar as cartas da mão com as cartas da mesa (comunitárias) e formar o melhor jogo de cinco cartas], ele criou sua própria equipe, a Yamada Poker Team. “Voltei ao Brasil, comecei a dar aula, a jogar, e fui evoluindo. Hoje em dia tenho um dos maiores times de poker online do mundo na minha modalidade, e a gente tem uma notoriedade nacional. Eu participei de vários podcasts do meio, nosso time patrocina o surfista potiguar Jadson André”, descreve.
Visionário, viu um espaço para a modalidade Omaha quando havia poucas equipes deste grupo. “Eu fui um dos pioneiros em relação à time nesse meio. Hoje em dia já tem mais de 20 times nessa modalidade, mas quando eu criei tinham somente três ou quatro”. Ex-aluno de Engenharia Biomédica na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), decidiu parar os estudos temporariamente para focar somente no poker. “Eu encontrei no poker uma renda muito alta para um cara muito jovem, e me seduziu”, diz.
E, enquanto muitos brasileiros perderam empregos e renda durante a pandemia da Covid-19, para Yamada isso foi diferente. Ao invés de investir somente nas cartas e fichas, colocou seu dinheiro e aprendizado a serviço de outras pessoas, e se tornou treinador. “Foi uma oportunidade que eu vi, porque já jogava poker e via que ganhava dinheiro jogando. Só que minha mulher engravidou e descobri que ia ser pai”, afirma. Com “muitas pessoas prejudicadas pela pandemia economicamente, vi a oportunidade de ganhar dinheiro junto com elas”, aponta.
Com isso, numa relação de ganhos mútuos, ele banca os gastos dos jogadores da equipe. Quando um dos membros ganha, o lucro é dividido com Yamada. “O pessoal vive disso. Eu tenho uma mansão aqui em Natal onde eu banco financeiramente. A Yamada Poker House Fiv5 — nome da casa — abriga hoje cerca de 12 pessoas, mas mais de 40 frequentam diariamente. “Nenhum jogador profissional usa o dinheiro deles para jogar. Eu ensino eles a jogarem, dou o dinheiro, dou o conhecimento e eles dão o tempo deles para mim”, afirma.