Após chegar ao 2° turno na disputa pela Prefeitura de Natal, o que foi considerado surpreendente para muitos analistas políticos, a deputada federal Natália Bonavides (PT) ultrapassou a barreira da projeção estadual para se tornar um nome conhecido nacionalmente.
A atuação dela na Câmara dos Deputados, votando contra projetos de interesse do governo Lula, como no caso da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Corte de Gastos, provocou críticas internas, mas ajudou a aumentar seu prestígio entre o eleitorado de esquerda. Para ela, o discurso de que o PT “tem que ir para o centro (do espectro político) é um erro”.
A análise da parlamentar potiguar vai na linha do que tem defendido a presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffman. Em recente entrevista ao jornal O Globo, a deputada do Paraná declarou que “ir para o centro pode ser a morte do PT”.
Ao jornal Folha de S. Paulo, Natália afirmou que o PT deve estar “mais próximo da classe trabalhadora em lutas como o fim da escala 6×1, que poderia ser melhor aproveitada pela esquerda”. A opção de se tornar um partido de centro, na visão dela, esvaziaria a própria razão de existir do PT.
A parlamentar do PT no Rio Grande do Norte avaliou que a dificuldade de atuação da esquerda se deve, em parte, às mudanças nas relações de trabalho, como a terceirização e a reforma trabalhista, aprovada em 2017 na Câmara dos Deputados, que teve como relator à época o atual senador Rogério Marinho (PL).
“A vulnerabilidade social deixa as pessoas mais suscetíveis a serem usadas por políticos que as consideram apenas título de eleitor”disse a deputada ao jornal.
Mesmo recebendo críticas internas por votar contra o governo federal, Natália justificou que a PEC do Corte de Gastos, enviada pelo Ministério da Fazenda ao Congresso Nacional, não tocava nos “privilégios dos de cima”, mas retirava “direitos dos mais pobres”.
Apesar de não se alinhar automaticamente com todos os projetos de interesse do governo petista, Natália defende a candidatura à reeleição de Lula em 2026, acrescentando que ainda está longe para apontar sucessores do presidente, caso ele seja reeleito, para as eleições de 2030.
Ela disse acreditar que o PT, mesmo após a saída de cena na política do presidente Lula, “continuará forte”. “Lula está além do PT eleitoralmente, mas o PT é maior do que pessoas físicas”, avaliou.
Em relação à transição do PT, Natália minimizou o que, para muitos observadores políticos, foi um erro do partido ao não criar novas lideranças, pelo menos na mesma proporção da direita.
“Os partidos em geral passam por uma transição geracional. Uma figura como Lula não se produz de forma artificial”, comentou.
Integrante da corrente interna petista “Articulação de Esquerda”, Natália Bonavides disse que, mesmo sendo minoritária dentro do partido, sua tendência lançará candidatura própria à Presidência do PT nas eleições internas de 2025, quando os filiados escolherão quem vai suceder a atual presidente, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR).