Nos documentos que embasam a operação sobre a espionagem ilegal na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo passado, então chefiada pelo atual deputado federal Alexandre Ramagem, os investigadores da Polícia Federal (PF) chegam a ironizar a forma descontrolada como invasões ilegais eram feitas em celulares de desafetos.
“Não se pode qualificar a solução tecnológica First Mile, adquirida por R$ 5 milhões, como mero brinquedo de criança”, escrevem os policiais, citando o nome do software que operava na rede de telefonia brasileira. “Ainda mais quando a ferramenta foi utilizada para monitorar sujeitos sem qualquer pertinência com as atribuições institucionais da ABIN”, afirmam.
A indireta presente na representação da PF tem destino certo. Há a suspeita de que os filhos de Bolsonaro eram os donos de diversas das encomendas de investigações clandestinas.
Na decisão, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirma que a Abin, durante a gestão Bolsonaro, “teria instrumentalizado a mais alta agência de inteligência brasileira para fins ilícitos de monitoramento de alvos de interesse político, bem como de autoridades públicas, sem a necessária autorização judicial.”
Na operação, também foi descoberto que a estrutura estatal foi usada para atacar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), “com construção de narrativas que, em regra, são substanciadas em documentos apócrifos estabelece o modus operandi da organização criminosa.”
Outra utilização ilegal dos serviços, diz a PF, foi uma ação de contrainteligência para interferir em diversas investigações da PF, como, por exemplo, “para tentar fazer prova a favor de Renan Bolsonaro”, filho do então presidente, investigado pela Superintendência da PF no Distrito Federal, por tráfico de influência.