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Prefeito de Braga prevê êxodo de brasileiros após ameaça de Bolsonaro: “Braços abertos”

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Prefeito de Braga prevê êxodo de brasileiros após ameaça de Bolsonaro: “Braços abertos”

Às vésperas da eleição do presidente Jair Bolsonaro em 2018, o prefeito de Braga, Ricardo Rio, escreveu um artigo no qual recebia os brasileiros desiludidos de braços abertos: “Bem-vindos a Braguil”. A cidade da região norte de Portugal é exemplo de integração dos brasileiros para o combate ao decréscimo da população.

Três anos depois, diante do mais recente episódio da crise política no Brasil, que culminou com ameaça golpista de Bolsonaro, Rio volta a abrir a cidade para os brasileiros insatisfeitos com a condução do governo. Em entrevista exclusiva ao Portugal Giro, o prefeito prevê a possibilidade de um novo êxodo.

– Aquilo que nós temos para oferecer, além da segurança numa perspectiva mais física, é também a estabilidade e tranquilidade que, infelizmente, o Brasil não consegue oferecer estes dias e, provavelmente, não conseguirá oferecer nos próximos tempos – disse Rio.

Prefeito desde 2013 pelo Partido Social Democrata (PSD), de centro-direita, Rio é economista, tem 48 anos e comanda uma cidade aberta aos imigrantes. Tanto que Portugal perdeu habitantes no censo 2021, mas Braga ganhou população nos últimos anos graças aos brasileiros.

Confira a entrevista:

Portugal Giro: O que diria aos brasileiros que planejam ir a Braga?

Ricardo Rio: Braga recebe bem, tem margem para crescer e acolhe bem os que aqui chegam. É uma cidade intercultural, inclusiva e recebemos de braços abertos todos os que venham para ajudar no desenvolvimento da cidade e consigam concretizar aqui suas ambições.

PG: Prefeito… No Brasil chamamos prefeito. (Em Portugal, o cargo é presidente da Câmara Municipal)

RR: Eu sei, eu sei.

PG: Já está acostumado? Porque em Braga falam “brasileiro”, não é? É mais “Braguil” que Braga?

RR: Braguil, é verdade. Não sei se fui o primeiro a usar a expressão, mas escrevi o artigo “Bem-vindos a Braguil” (no “Correio da Manhã”). A partir daí, o nome ficou.

PG: No artigo de 2018, escreveu sobre um anunciado êxodo para Portugal dos brasileiros desiludidos com a nova realidade política do país. Vivemos um momento semelhante, não? Acredita que possa haver um novo exôdo?

RR: Sim. A verdade é que, ao longo dos últimos anos, mesmo num período em que o Brasil teve certa estabilidade, nunca houve um abrandamento de cidadãos brasileiros com intenção de se deslocarem para a cidade. Qualquer fator que venha a perturbar as expectativas dos brasileiros em relação ao seu país poderá vir a acelerar a intenção de mudarem para Portugal. E, em particular, para Braga. Condicionados, também, a uma questão de natureza econômica. Mas a alteração do cenário político pode ser um acelerador da imigração.

PG: O Sr. ouviu as declarações do presidente brasileiro com ameaças golpistas?

RR: Sim. Este cenário e todas as circunstâncias recentes vão criando um clima de grande incerteza nas pessoas. Obviamente que aquilo que nós temos para oferecer, além da segurança numa perspectiva mais física, é também a estabilidade e tranquilidade para o desenvolvimento de atividades profissionais, ou outras que, infelizmente, o Brasil não consegue oferecer estes dias e, provavelmente, não poderá oferecer nos próximos tempos.

PG: Por este e outros motivos que a população de Braga aumentou, ao contrário do que aconteceu em Portugal de maneira geral na última década? E o aumento foi possível graças à imigração de brasileiros?

RR: De fato, ao longo dos últimos dez anos, Braga foi o município de Portugal que mais cresceu em valor absoluto, com quase 12 mil novos habitantes. Mesmo entre as grandes cidades, foi, claramente, aquela que mais cresceu em termos relativos, 6,5%, número muito superior aos outros municípios. Estamos no sentido oposto daquilo que é a realidade do país. Aqui ao lado, o Porto, por exemplo, diminuiu. Isto deve-se aos fatores de atração da cidade: dinâmica econômica, criação de postos de trabalho qualificados e qualidade de vida permitiram captar muitas pessoas de diversos pontos do país e também imigrantes. Entre eles, a maior parte de brasileiros, como sentimos no dia a dia da cidade. Dos novos habitantes, parte substancial é brasileira, com ou sem ligação com Portugal. 

PG: Qual a explicação para trocarem Lisboa e Porto como destinos preferenciais?

RR: Várias razões. Uma é o fato de Braga ter um nível alto de qualidade de vida, enquanto que nas grandes metrópoles há mais insegurança, trânsito e custo de vida elevado. Braga é uma cidade que tem tudo, excelente infraestrutura nas áreas da saúde, educação, lazer, cultura e esporte. Ao mesmo tempo, o custo comparado é muito inferior aos das outras cidades. Um apartamento com as mesmas características custa em Braga menos 20% a 30% do que custa no Porto, que está a trinta minutos de distância*. 

*(Observação do PG: o trem mais rápido, e mais caro, de até € 20,80, leva 36 minutos. O mais lento pode demorar 1h11m, mas custa € 3,25).

PG: Este valor que informou é para aluguel ou compra de imóvel?

RR: Para os dois. É mais ou menos a mesma coisa. Há em Braga uma diminuição do valor face ao que acontece em outras cidades de idêntica dimensão. É um fator competitivo importante para atrair quem aqui deseja se instalar.

PG: Quanto é preciso para dois brasileiros recém-chegados, com uma criança, morarem em Braga?

RR: Nós temos apartamentos de dois quartos, em um bom bairro, por € 500 ou € 600 (*), dependendo das características do próprio apartamento. E pode juntar a isto todos os outros custos de consumo de serviços públicos, que são mais baixos que em outras cidades.

(*) O PG consultou brasileiros recém-chegados a Braga, que confirmaram os valores. E acrescentaram que há aluguéis ainda mais baratos. Mas o preço não inclui serviços como internet e tv por assinatura, luz, água, passagens de transportes públicos e, se não houver vaga na rede pública, creche para crianças pequenas.

PG: E para quem procura trabalho em Braga? Onde tem emprego, no setor digital ou nos serviços?

RR: Temos, obviamente, um crescimento significativo nos setores do comércio e turismo. Mais importante tem sido o crescimento da nossa base industrial. Braga é uma das cidades mais inovadoras, está entre as finalistas ao prêmio capital europeia da inovação até 250 mil habitantes. Há cada vez mais empresas tecnológicas e à procura de pessoas qualificadas nas áreas de engenharia e tecnologia da informação. Temos a InvestBraga, nossa agência de dinamização econômica para apoiar o crescimento. E também uma plataforma chamada “Work in Braga”, onde qualquer cidadão, em qualquer canto do mundo, pode conhecer as ofertas de emprego da cidade.

PG: Tinha por hábito receber os imigrantes em uma visita de cortesia. Ainda faz isto em seu gabinete?

RR: Sim, sobretudo os muitos investidores brasileiros que nos tem procurado. E também muitos cidadãos que estão ligados a projetos e associações e nos desafiam para estarmos diretamente envolvidos. Recordo a associação UAI, com papel importante para integração dos brasileiros, e o projeto do bloco carnavalesco Minho de Janeiro, uma forma de compartilhar culturas. Há vários projetos esportivos, de capoeira, todos com os quais gosto de colaborar, porque a prefeitura acaba sendo uma alavanca. 

PG: Braga ganhou a eleição de destino europeu de 2021?

RR: Exatamente.

PG: Então, o que o brasileiro vai encontrar, ou reencontrar, em Braga nesta reabertura ao turismo com origem no Brasil?

RR: Há dinâmicas turísticas diversas e complementares. Do ponto de vista histórico, temos dois mil anos e vários exemplos de cada uma das fases da História, desde o tempo romano ao período barroco. Temos marcas arquitetônicas e patrimoniais muito presentes. Somos conhecidos como a cidade dos arcebispos e, portanto, a Igreja Católica tem um peso e é responsável por uma fatia substancial do nosso patrimônio. O Santuário do Bom Jesus do Monte, por exemplo, é patrimônio da humanidade da Unesco. Nossa catedral é a mais antiga de Portugal. A cidade conjuga história e tradição com a atualidade e modernidade, com muita energia. Em condições normais, tem grande dinâmica cultural e vamos retomá-la a partir de agora. Somos candidatos à capital europeia da cultura em 2027. Somos cidade criativa da Unesco na área das “medias arts”. São formas interessantes de atração.

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