Uma das médicas que defende que o Brasil enfrenta uma 4ª onda é Ludhmila Hajjar, que foi cotada para a vaga do ministro da Saúde
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, criticou especialistas em saúde que avaliam que a atual alta de casos da covid-19 configura uma 4ª onda da pandemia. Com menção religiosa, ele chamou os médicos de “falsos profetas” e “anticristos”. A declaração foi realizada nesta 3ª feira (7.jun.2022).
“É necessário não ficar a reboque dos falsos profetas. A Bíblia fala de anticristo. Não faltam deles por aí. Todos tem soluções mágicas. Acham que resolvem as coisas com facilidade. Agora já estão apregoando uma 4ª onda da covid-19”, disse Queiroga.
Os casos de doenças respiratórias estão aumentando com a proximidade do inverno, que começa em 21 de junho. As temperaturas baixas estimulam aglomerações em ambientes internos e pouco ventilados.
O Brasil já enfrenta alta dos diagnósticos de covid-19. A média diária de infectados nos últimos 7 dias até 2ª feira (6.jun) dobrou em relação a duas semanas antes, em 23 de maio. Passaram de 14.585 para 31.065.
A média de mortes, no entanto, recuou 23% frente a 2 semanas atrás. Mas Estados relataram dificuldades para notificar os dados de 5ª feira (2.jun) até 2ª feira (6.jun). Isso pode ter contribuído com a queda do número.
A implementação dos autotestes de covid-19 também pode contribuir com uma subnotificação dos números de casos. Pessoas com um resultado positivo no exame caseiro não são obrigadas a informar o diagnóstico às autoridades de saúde –diferentemente de quanto o teste é realizado em hospitais, unidades de saúde, laboratórios ou farmácias.
Apesar disso, o Ministério da Saúde orienta que os infectados avisem o resultado dos seus autotestes a profissionais de saúde –por meio de consultas presenciais ou on-lines– para que estes trabalhadores informem o diagnóstico às autoridades e o dado seja contabilizado pelo governo federal.
Queiroga negou que o Brasil esteja enfrentando um apagão de dados. “Quando veio a delta [os especialistas disseram]: ‘um apagão de dados, vai ser um colapso por conta da delta’. Cade o colapso? E aí veio a ômicron: ‘Vai ter um colapso no sistema de saúde porque tem um apagão de dados’. Aí os casos caíram. E agora de novo a mesma narrativa”, disse o ministro.
O ministro defende que o atual aumento de casos não é preocupante. “Não sei se eles desejam continuar suas entrevistas inúteis na televisão ou se eles pensam isso mesmo que temos uma 4ª onda enquanto a média de óbitos cai”, afirmou o ministro.
Crítica a médicos
Uma das médicas que defende que o Brasil enfrenta uma 4ª onda é Ludhmila Hajjar. Ela foi cotada para assumir o Ministério da Saúde antes de Queiroga. A médica chegou a se reunir com o presidente Jair Bolsonaro (PL) em março de 2021 para tratar do assunto. Mas as negociações não foram para frente por causa de desavenças sobre como lidar com a pandemia.
Hajjar defendia medidas de proteção restritivas para controlar a transmissão da doença. Bolsonaro era contra. Ele também era defensor de tratamentos sem estudos conclusivos de eficácia contra a covid-19.
Queiroga, que é apoiador do presidente, acabou sendo escolhido. O ministro se define como “um quadro técnico bolsonarista”. Ludhmila Hajjar é atacada até hoje por apoiadores do presidente alinhados à visão dele sobre a pandemia.