Um dos casos, ocorrido em Natal, deverá ser investigado pela Polícia Federal.
Fazer a contagem da população não tem sido uma tarefa fácil para os trabalhadores do Instituto de Geografia e Estatísticas (IBGE) que estão em campo para concluir o censo demográfico 2022. Além da dificuldade de acesso às residências, especialmente nos condomínios, a hostilidade de alguns moradores e até ameaças e agressões verbais têm assustado os recenseadores.
Foi no bairro da Redinha, na zona Norte da capital, onde o profissional do censo foi impedido de realizar o trabalho por um morador, que simulava ter uma arma na cintura e o ameaçava, na tentativa de fazê-lo não retornar àquela rua, mesmo com as explicações sobre o trabalho de pesquisa que está ocorrendo em todo o território nacional.
O Boletim de Ocorrência foi registrado na delegacia de Plantão da zona Norte, mas a Polícia Civil informou que o caso deverá ser investigado pela Polícia Federal. No órgão federal, a assessoria de imprensa comunicou que ainda não há informações sobre esse assunto a serem divulgadas.
Felizmente, outro caso extremo como esse não foi registrado, mas desde o dia 1º de agosto, quando começou o trabalho de contagem dos habitantes do país para identificar suas características e revelar como vivem, a hostilidade contra os recenseadores tem sido frequente.
“Temos alguns relatos de agressão verbal. Em alguns casos pedimos o apoio de agentes comunitários de saúde, líderes comunitários e assistentes sociais pra ajudar no convencimento. Em outros casos, quando não contamos com esses apoios, encaminhamos nossos supervisores para outras tentativas de explicação e convencimento”, conta João Góis, coordenador do censo da área de Parnamirim, que engloba 19 municípios.
Segundo ele, essas dificuldades se concentram mais na região metropolitana. Em Natal, o recenseador Wendel Alex conta como moradores se recusam a recebê-lo. “Sempre pensam que sou algum ladrão. Já me ocorreu de uma moradora me expulsar da frente da sua residência e da rua. Diversos moradores me aceitam de forma grosseira e sem educação.”
Além disso, muitos moradores ausentes no momento da visita não se comunicam com ele como orienta a fazer. “Sempre apareço nas residências em horários diferentes e as pessoas não estão em casa ou, se estão, não me atendem. Eu sempre deixo um papel de ausência que contém meu nome, matrícula e o número do meu WhatsApp, mas infelizmente não tenho retorno. Até o momento, apenas 2 pessoas me chamaram de mais de 30 que procedi assim”, explica o recenseador.
Para Wendel, é preciso dar mais condições para esses trabalhadores realizarem a coleta das informações. Ele relembra que enfrentam sol e chuva diariamente para cobrir a área para o qual foram habilitados e ainda lidam com os riscos e recusas já mencionados. “O trabalho do recenseador não é fácil. Tem a questão das nossas dúvidas que mal são respondidas. Nem o próprio IBGE nos disponibiliza protetor solar, temos que tirar do nosso próprio bolso. Também tem a questão do nosso salário que eles lançam uma tabela com valores baixos demais para um cargo que arriscamos nossas vidas nas ruas”, reclama.
Por essas questões, pensar em desistir é uma constante. Em todo o país, mais de 6 mil recenseadores que passaram no processo seletivo e iniciaram o trabalho haviam se desligado do IBGE até a semana passada. “Temos tido desistência, mas as causas são as mais variadas possíveis. Uma causa comum é a não identificação com o trabalho. Andar de casa em casa, em horários alternativos, na tentativa de achar os moradores… Atrelado a isso, tem hostilidade de alguns moradores junto com a insegurança das ruas”, explicou o coordenador de área de Parnamirim, João Góis.
Segundo ele, todas essas dificuldades já eram presentes nas outras edições do censo. “Mas a percepção qualitativa inicial é que esse ano se intensificou”, avalia o coordenador.
*Com informações da Tribuna do Norte