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Relembre detalhes dos problemas com chuvas que Natal vem enfrentando

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As últimas ocorrências demonstram que a capital enfrenta um problema crônico de infraestrutura e drenagem, que já dura quase sete décadas.

São diversas reportagens, notícias, entrevistas, notas e imagens que demonstram a vulnerabilidade da Cidade do Sol diante das chuvas. A reportagem da TN mostra como as páginas do jornal mais antigo do Rio Grande do Norte vêm contando essa história.

Os trechos foram transcritos conforme escrito na época. Acompanhe:

1956: alagamentos e comércio parado
Vinte e quatro horas de chuvas foram suficientes para alterar o dia da capital potiguar. Ruas foram interditas e o comércio foi paralisado. “As precipitações pluviométricas se não atingiram uma intensidade de maior nota, pelo menos contribuíram para que a vida na cidade, sofresse uma completa alteração, provocando, inclusive, na zona baixa da Ribeira, alagamento total da praça Augusto Severo, repetindo-se o velho drama da ausência de galerias pluviais em condições de pleno funcionamento”, publicava a TN em 29 de junho de 1956.

Em 2022, a vida natalense comercial também foi afetada. Na manhã de quinta (7), o piso do Camelódromo do Alecrim cedeu e provocou a interdição de três bancas. No momento do incidente, as bancas estavam fechadas e ninguém se feriu. No local, abriu-se um buraco e produtos de uma banca foram engolidos, como capinhas e aparelhos celulares.

1965: calamidade é causada por falta de planejamento urbano

Na edição de 5 de maio de 1965, a TN trazia como destaque a reportagem “Falta de estudos e serviço sem planejamento são causas de Natal ser hoje cidade alagada”. O texto apontava os desafios que a Prefeitura teria dificuldade para reparar todos os prejuízos das chuvas na cidade, que assim como hoje, também estava sob decreto de calamidade pública. “A situação da cidade é, verdadeiramente, de calamidade pública, por conta das chuvas ultimamente caídas e em virtude dos derrubamentos, alagamentos, descalçamentos de ruas provocadas pelas enxurradas”, dizia o texto.

Na Rua João Carlos, uma cratera de quatro metros se abriu e prejudicou a rede de esgoto, além de impedir a passagem dos pedestres. “Afóra êsse trecho da João Carlos outras ruas foram [danificadas], casos da Rio Branco, nas proximidades do Baldo. Deodoro, também nas proximidades do Baldo, Rio Branco, nas proximidades da Ribeira e Juvino Barreto, nos limites com a Pista”, contava a reportagem na época.

1973: desabamentos e crateras enormes
Em 25 de julho de 1973, a Ribeira registrava uma cheia histórica. A água deixou pedestres e veículos pequenos ilhados, impossibilitados de trafegar da Rodoviária até o cais do porto. O largo da Praça Augusto Severo também ficou completamente alagado. Do Teatro Alberto Maranhão ao antigo Grande Hotel, uma lagoa de aproximadamente 40 centímetros de altura se formou. A Rua Gustavo Cordeiro de Farias, em Petrópolis, ficou intransitável.

Na Alexandrino de Alencar, quintais viraram piscinas e em Ponta Negra, todo o calçamento foi comprometido. “O problema de galerias pluviais – em Natal – continua sendo um dos maiores desafios ao prefeito Jorge Ivan tendo em vista o que está acontecendo, antes mesmo do início da estação chuvosa”, dizia a TN.

O crescimento desordenado da cidade já era motivo de preocupação. “Enquanto a cidade cresce lentamente, os problemas de urbanização se avolumam e as administrações continuam inconscientes do que acontecerá, especialmente em consequência das chuvas, como por exemplo o que se refere ao Mirassol, onde por falta de escoamento das águas, diversas casas foram inundadas na parte baixa do terreno daquele núcleo residencial”, publicava a TN em julho de 1973.

1974: Baldo amanhece com enorme buraco

Assim como em 2022, o Viaduto do Baldo e a Avenida Rio Branco já registravam buracos, alagamentos e desabamentos de muros. Foi assim em 22 de maio de 1974, quando a não conclusão de uma obra ocasionou o desabamento de parte da estrutura. “Para o sr. Geraldo Pinho Pessoa, superintendente do DNOS, a causa da enorme cratéra provocada pelas águas no Baldo foi devido a não conclusão do canal”, publicou o jornal.

1975: desabamentos de barracos, novas crateras e cidade inundada

O período de inverno em 75 castigou bairros de diversas regiões. Ribeira, Rocas e Alecrim ficaram intransitáveis e barracos foram derrubados. Alguns moradores da capital tiveram que lidar ainda com um agravante inusitado. Isso porque uma fábrica de vinagre e temperos foi atingida pela força da água, o que fez com que o caldo de pimenta chegasse às casas. “Rebolaram para cá todo o caldo de pimenta. Ninguém aguentava mais”, reclamava Antônia da Silva à época.

“A impossibilidade de escoamento das águas, que se acumulavam em regiões mais baixas da cidade acabaram por ocasionar desabamentos em diversas favelas, onde os barracos são considerados muito frágeis, geralmente feitos de barro e madeira, além de abrir enormes buracos em ruas asfaltadas. Na Favela do Japão, no final da Rua dos Paiatis, Alecrim, cinco barracos desabaram. Outros dois em Brasília Teimosa, e nas Rocas, a situação também não era das melhores”, contava a matéria.

1982: destruição em todos os bairros

Buracos, calçamentos desfeitos, ruas e casas inundadas e protestos marcaram aquele 13 de abril de 1982. A reportagem denunciava que os estragos eram inversamente proporcionais às providências tomadas  para tentar contornar os problemas. Na Rua 25 de Dezembro, nas proximidades do antigo Hotel dos Reis Magos, a chuva invadiu várias residências, provocando tumulto por parte dos moradores, que tiveram seus móveis, eletrodomésticos e outros objetos destruídos.

“Apavorados com a situação os moradores telefonaram para a Sumov [Secretaria de Obras da época] solicitando providências. Um trator foi enviado para arrastar a areia trazida pelas águas das chuvas, mas no momento em que os serviços iam ser iniciados chegou uma ordem da prefeitura mandando interromper os trabalhos, porque, segundo a ordem os reparos deviam ser feitos pela Caern que estava realizando serviços no local, e não pela Prefeitura. Revoltados com a medida, os moradores saíram às ruas portando cartazes nos quais pediam providências para a situação”, dizia trecho de reportagem.

Mais tarde, em junho de 1982, a TN mostrava que nenhum bairro da capital havia escapado dos estragos causados pelas chuvas. O jornal criticava obras sem planejamento que foram incapazes de escoar todo o volume de água. Os bairros de Mãe Luiza e Quintas, na zona Oeste, foram os mais afetados: cerca de 50 famílias ficaram desabrigadas.

1985: Natal, Cidade do Sol – só do Sol

Em abril de 1985, em caderno especial, a TN retratava a “Anatomia do Caos”, que não aguentava “uma chuvazinha” sequer. A publicava destacava o contraste entre a alegria do sertanejo com a prosperidade da lavoura no interior com a destruição na capital. “Natal está provando por a mais b, que não tem (ainda) condições de suportar uma chuva maior. Assim como dois e dois são quatro, Natal é uma cidade que não tem, ainda hoje não tem, infra-estrutura necessária para as águas. Não suporta uma garoazinha fina, tipicamente paulistana, daquelas que começam e terminam num piscar de olhos”, trazia a reportagem.

O periódico listou dez exemplos de como a capital “não aguenta uma chuvazinha”. Entre os exemplos estavam favela do Vietnam, Rua do Motor, Hotel Reis Magos, Quintas, Centro, entre outros.

1998: chuva de 236 mm leva Natal à calamidade

Em 24 horas, entre 29 e 30 de julho de 1998, o volume de chuva de 236 milímetros deixou um rastro de destruição e muitos desabrigados na capital. Natal ficou sob estado de calamidade pública, decretado pela então prefeita Wilma de Faria. O caos foi evidente nos bairros de Lagoa Nova, Cidade da Esperança, Planalto, Petrópolis, Bom Pastor, Igapó e Mirassol.

“A correnteza forte derrubou o muro de duas residências na Rua das Orquídeas. Na Rua José Gonçalves, Lagoa Nova, um caminhão tentou passou e terminou enguiçando no meio de muita lama. O motorista teve que sair do local a nado. Os moradores da rua estão ilhados, sem poder sair de suas casas”, contava a página 12 da TN de 30 de julho de 1998.

2006: chuvas alagam loteamentos

As chuvas de 110 milímetros que caíram na capital durante o feriadão da Semana Santa escacaram mais uma vez os problemas históricos da cidade. O aguaceiro tirou o sossego dos moradores dos loteamentos Jardim Primavera, Aliança, Jardim Progresso, Vale Dourado, Libanês e José Sarney, na zona Norte.

2014: tragédia em Mãe Luiza

Enquanto a capital natalense sediava a partida entre México e Camarões pela Copa do Mundo de 2014, uma cratera com mais de dez mil metros quadrados engoliu imóveis e deixou dezenas de desabrigados em Mãe Luiza e Areia Preta. Novamente, os mesmos problemas elencados por autoridades e especialistas foram os causadores do deslizamento de terra. Além das fortes chuvas, ocupação irregular, lixo acumulado em galerias e rompimento de tubulações contribuíram para o acidente.

Assim registrou a TN: “Além das 100 famílias de Mãe Luíza e Areia Preta atingidas pelas chuvas do fim de semana, a Prefeitura do Natal contabilizou, até o fechamento desta edição, outras 38 famílias desabrigadas em diversos pontos da cidade. Nas proximidades da Lagoa São Conrado, no bairro Nossa Senhora de Nazaré, zona Oeste, foram 21 famílias atingidas, além das 10 famílias do entorno da Lagoa do Preá, na zona Sul; cinco famílias da comunidade do Jacó, zona Leste; e outras duas do loteamento Novo Horizonte, na zona Norte. A Secretaria Municipal do Trabalho e Assistência Social (Semtas) lembra que o cadastramento está em andamento e que esse número pode crescer. A Prefeitura pede aos atingidos e não cadastrados que recorram à Secretaria para registrar seu caso”.

CRÉDITOS: TRIBUNA DO NORTE

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