Ex-deputado federal aponta transformação do espaço adjacente do terminal em área de livre comércio como uma das possíveis soluções para tornar local viável
Com o fim de 2022, a situação do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante segue indefinida e sem previsão para relicitação. Já é o terceiro ano sem mudança de status. Sem perspectivas definidas, o terminal que conta com localização geográfica considerada importante, levanta críticas de especialistas das áreas econômica, de logística e também da classe política. Ex-deputado federal, Ney Lopes acredita que o aeroporto que atende a capital potiguar deve ser viável economicamente e que uma das soluções para isto seria uma transformação do espaço adjacente em área de livre comércio. Tudo isso, desde que haja uma mudança de mentalidade por parte dos atores responsáveis para que as mudanças aconteçam.
Lopes, que também foi presidente do Parlamento Latino-Americano (Parlatino), defende que o aeroporto não pode depender de tarifas dos usuários para se sustentar e que medidas no sentido de tornarem o aeroporto de São Gonçalo mais rentável precisam ser tomadas com urgência. “Nem os stands de vendas de alimentos se sustentaram na primeira fase. Nem irão se sustentar, se não forem tomadas as cautelas da viabilização econômica”, afirmou.
Ainda segundo o ex-parlamentar do RN, a falta de um plano de viabilidade econômica do terminal aéreo interfere no desenvolvimento do aeroporto e também da economia potiguar. “Sem isso, será um elefante branco. Como deputado federal e jornalista, defendo há mais de 20 anos que o fundamental para o RN não é simplesmente o aeroporto, mas sim a transformação do espaço adjacente numa área de livre comércio, que significaria a implantação no Grande Natal de um polo exportador e turístico. Essa posição geográfica é a maior fronteira aérea e marítima da América Latina e Caribe. Somente assim o empreendimento se transformará em em milhares de empregos e novas oportunidades”, frisou.
Ele ainda esclarece que as empresas locais terão muitas vantagens com um plano de viabilidade econômica do terminal aéreo. “Elas poderão ser fornecedoras das empresas localizadas na área de livre comércio/RN; poderão se expandir dentro da área de livre comércio/RN, implantando nela suas atividades mais direcionadas para as exportações – e ganhando mais competitividade nos mercados externos; terão a oportunidade de se iniciar na atividade exportadora, sem ter que enfrentar as dificuldades de ‘garimpar’ clientes no exterior, gastando muito dinheiro e tendo que negociar em contextos (e idiomas) estrangeiros. Na área de livre comércio, o empresário estará logo ao lado, e negociará em português”, esclareceu.
Ney Lopes ainda defende que estas soluções de viabilização econômica do aeroporto são viáveis, mas que para isso acontecer é necessário mobilizar a inteligência criativa dos potiguares. Para ele, montar equipes de estudos com talentos nativos, atuação do governo, das universidades, centros empresariais, trabalhadores e também a classe política, todos trabalhando em conjunto, poderão entregar uma contribuição. “Infelizmente hoje em dia a ação parlamentar é unicamente em busca de dinheiro de orçamento. Não há visão a longo prazo de obras estruturantes e definitivas para o futuro do Estado. Mas, se o povo quer assim, que seja assim”, criticou.
Ele ainda adianta que é necessário que as lideranças de todos os níveis acreditem na proposta de tornar o aeroporto de São Gonçalo do Amarante viável e que partam para prática começando por montar equipes de estudos para a elaboração do projeto. “A área de livre comércio é apenas uma pequena mudança na lei federal 11.732, de 39 de junho de 2008. Só depende da vontade política do futuro presidente Lula, ligado à governadora Fátima Bezerra. Essas medidas levariam para a produção local, exportação, geração de milhares de empregos e oportunidades empresariais. A opção significaria economia de custos de transporte aéreo no continente latino americano com a redução de 35 minutos nos voos procedentes da Europa e África, por sermos o ponto geográfico mais avançado da região”, pontuou.
Assunto que ainda costuma ser trazido pelos natalenses, em virtude da distância do novo aeroporto da capital potiguar, é o antigo terminal, o Augusto Severo, localizado em Parnamirim, na Grande Natal. Lopes defende que é possível usar a estrutura para questões relacionadas à segurança e estudos científicos. “Seria o aproveitamento do Atlântico Sul, com grande potencial de riquezas. Essa iniciativa terá que ser uma reivindicação do governo brasileiro, junto a OEA e entidades internacionais e contribuiria para a liderança brasileira na América Latina”, projetou.
Questionado se espera ser ouvido pelos atores que podem fazer a diferença em relação ao terminal aéreo, o ex-presidente do Parlatino diz que conta com esperança de uma mudança de mentalidade. “Convenci-me de que Tonico e Tinoco têm razão, quando cantam a música sertaneja: “falar com quem não escuta, não adianta gritar”. Infelizmente, quem não pensa na linha dos “lobbies”, que favorecem pessoas e grupos, recebe o “calado por resposta”! O interesse público é colocado na lata do lixo. Ninguém aceita sequer debater, mesmo para contestar os argumentos levantados. A triste realidade lembra a sátira de Stanislaw Ponte Preta: “a prosperidade de alguns brasileiros é uma prova evidente de que eles vêm lutando pelo progresso do nosso subdesenvolvimento”. Mas, há sempre uma esperança de mudança de mentalidade. Vamos ver”, finalizou.