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Usuários do SUS têm dificuldades para conseguir tratar TDAH no RN

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Na busca pelo bem-estar, muitas vezes o cuidado com a saúde da mente costuma ser negligenciado. Para quem depende do Sistema Único de Saúde (SUS), essa nem sempre é uma escolha, mas sim uma consequência de um atendimento que recorrentemente não consegue suprir as necessidades do paciente. Esse é o caso de Carolina Borba, 39, que durante três anos precisou lidar com diagnósticos imprecisos e tratamentos que não estavam de acordo com o que ela sentia.

Desde a infância, Carolina notava padrões de comportamento diferente das outras crianças, mas foi somente aos 35 anos que ela recebeu a confirmação do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). “Ele esteve comigo a vida toda, desde a primeira infância. O conjunto de sintomas clássicos junto ao histórico de dificuldades acadêmicas, de falta de foco, falta de concentração, dificuldade de concluir tarefas, são alguns de muitos”, explica.

De acordo com o Ministério da Saúde, o TDAH é considerado uma condição de neurodesenvolvimento, caracterizado por uma tríade de sintomas envolvendo desatenção, hiperatividade e impulsividade em um nível exacerbado e disfuncional para a idade. Os sintomas costumam surgir na infância, podendo persistir ao longo da vida.

Na fase adulta, foi o momento que Carolina decidiu ir atrás de uma solução sobre o que sentia, onde explorou atendimento através do SUS. “Cheguei a procurar tratamento, mas deram outros diagnósticos, nada resolvia o problema”, afirma. Depois de passar por vários tratamentos e com isso uma série de comorbidades adquiridas, como depressão e ansiedade, ela relata que a tentativa pela rede pública gerou um “estrago enorme”.

“Infelizmente ainda estamos carentes de tratamento especializado no atendimento público. Muitas pessoas sofrem e não buscam tratamento por isso, e é um sofrimento grande para quem não trata. Vira uma bola de neve! É muito mais complexo do que se imagina”, enfatiza Carolina Borba.

Sem conseguir suprir os sintomas e não satisfeita com o SUS, foi que ela decidiu partir para o atendimento particular com um psiquiatra especialista, e com isso, um susto no orçamento. “Se for colocar na ponta do lápis, pode imaginar. Cada consulta com o especialista é R$300, e em remédio é R$500 por mês. Os gastos seguem até hoje”, explica.

“Eu ouvi muitas vezes que ‘não parecia ter TDAH’ ou ‘frescura’, mas agradeço pelo acesso à informação, pois creio que o TDAH não tratado pode ser devastador”, defende Carolina Borba.

Na avaliação de Ernane Pinheiro, presidente da Associação Norte-riograndense de Psiquiatria (ANP), existem muitas situações em que o paciente não é atendido corretamente por falta de estrutura na rede pública. “Você desconfia que seu filho tem desatenção e inquietação. Se você for pelo SUS, vai demorar dois anos para encontrar médicos psiquiatras. Essa é a média que meus pacientes me dizem. E há sempre um atraso no diagnóstico para o tempo que nós achamos que seja mais correto”, afirma.

Para o psiquiatra, o Sistema Único de Saúde não deve ser comemorado, mas sim pensar soluções de melhoria que facilitem o acesso ao atendimento de qualidade.

“Somente as pessoas que têm algum poder aquisitivo maior ou têm plano de saúde é que conseguem ter acesso [ao tratamento de qualidade], mas o ‘povão’ tem acesso a uma psiquiatria de péssima qualidade pela insuficiência do SUS”, afirma Ernane Pinheiro.

Na saúde pública, um dos pilares no atendimento dos transtornos se encontra no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). Em Natal, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) conta com cinco unidades, distribuídas entre as quatro zonas. Uma delas é o Caps III, que se encontra fechado há um mês, situação noticiada pela TRIBUNA DO NORTE em 8 de agosto.

De acordo com a SMS, a interdição total da unidade pela Vigilância Sanitária de Natal aconteceu no dia 17 de agosto, causado pelo estado estrutural do imóvel, que estava com mofo.

Temporariamente os pacientes que eram atendidos no Caps III Leste foram transferidos para o no Ambulatório de Prevenção e Tratamento ao Tabagismo, Alcoolismo e Outras Drogas (APTAD) e para a Unidade Básica de Saúde (UBS) de Pirangi.

“O APTAD e a UBS Pirangi estão localizados no mesmo prédio, e os usuários vão contar com toda a equipe especializada na oferta de atendimentos psiquiátricos, acolhimento, atividades em grupos, plantão psicológico e dispensação de medicamentos psicotrópicos”, cita a nota da Secretaria Municipal de Saúde.

A pasta ressalta que estes fluxos são de caráter temporário e que o Caps III Leste receberá sede nova e própria, localizada na Rua Professor José Melquíades, 283, no bairro de Santos Reis. A previsão de transferência definitiva está programada para acontecer até o final do ano de 2024.

Multidisciplinaridade
Para o tratamento do TDAH e de diversos transtornos associados à saúde mental, o cuidado vai além da medicação. É essencial que todos os esforços estejam alinhados com outras especialidades que trabalham em prol do bem-estar. “Embora nós [psiquiatras] sejamos importantes para dar o diagnóstico, estipular o tratamento, somente nós não podemos solucionar. É um assunto muito complexo e, portanto, precisa de muitos profissionais para resolver”, explica Ernane Pinheiro.

Um dos profissionais que constrói pilares na saúde mental é o psicólogo, especialidade que estuda e compreende a influência do cérebro nas funções cognitivas.

Gleyna Lemos, mestre em psicologia e neuropsicóloga clínica pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), explica que o apoio no tratamento não é baseado em uma única ação, mas sim em um conjunto de dados que inclui o desempenho em várias tarefas, além de relatórios comportamentais e a exclusão de outras condições que possam causar sintomas semelhantes.

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