Diversas autoridades reagiaram e repudiaram a fala do senador Plínio Valério (PSDB-AM), que ironizou sobre a vontade de “enforcar” a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva. A Procuradora Especial da Mulher do Senado, senadora Zenaide Maia (PSD-RN), declarou, nesta quinta-feira (20), através de nota que um “pedido honesto e público de desculpas, que o parlamentar recusa-se a fazer de forma espontânea, seria o mínimo que ele deveria dirigir à ministra ofendida e a todas as mulheres brasileiras, inclusive às da própria família dele”.
A declaração de Plínio foi feita durante um evento no Amazonas, na sexta-feira (14/3). O senador mencionou a sessão de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) em que ficou ouvindo Marina por 6 horas e disse para o público imaginar o que era passar esse tempo sem querer “enforcar” a ministra.
“Na CPI das ONGs, a ministra Marina esteve na CPI. Foram 6 horas e 10 minutos que eu a tratei com educação. Ela provocou e eu não entrei nisso, com toda educação. Por ser mulher, ministra, por ser negra, por ser frágil, foi tratada com toda delicadeza. Ela sabe disso. Um ano se passou e eu fui receber uma medalha e na brincadeira, em torno de brincadeira, eu falei: ‘Imagina vocês o que é ficar com a Marina 6 horas e 10 minutos sem ter vontade de enforcá-la?’. Todo mundo riu, eu ri, brinquei”, disse Plínio.
Nesta quarta-feira (20), em entrevista ao programa Bom dia, ministraMarina afirmou não é a primeira vez que ela é atacada dessa forma e que mulheres Brasil afora também são desrespeitadas e tratadas com violência apenas por serem mulheres. A ministra também ressaltou que só os psicopatas são capazes de brincar com a vida dos outros e fazer ameaças rindo.
“Se eu, uma ministra de estado, passo por isso, imagino o que muitas outras mulheres devem passar, estando na política ou não. Que essa realidade mude. E mude depressa”, citou Marina.
A ministra do Meio Ambiente ainda lembrou que a violência política de gênero foi criminalizada no Brasil pela Lei nº 14.192/2021. “Essa lei estabelece normas para prevenir, reprimir e combater a violência política contra mulheres. O crime também foi incluído no Código Eleitoral. A pena para esse crime é de 1 a 4 anos de reclusão e multa. Se houver violência física, psicológica ou sexual, outras leis podem ser aplicadas em conjunto”, frisou.
“Combustível para a violência”
Durante a sessão plenária desta quarta-feira (19), o presidente do Senado, Davi Alcolumbre classificou a fala do senador Plínio como “infeliz” e um “combustível” para casos de violência em um país já polarizado.
“Uma fala de um senador da República, mesmo que de brincadeira ou com tom de brincadeira, agride, infelizmente, o que nós estamos querendo para o Brasil. Estamos vivendo em um país dividido e polarizado, o que está fazendo mal para as pessoas, e uma fala dessa só serve como combustível para essas agressões que estamos vendo nas famílias e na sociedade brasileira, onde todos acham que têm o direito de ofender e agredir uns aos outros”, destacou Alcolumbre.
Na mesma sessão, o senador Plínio disse que “não está arrependido”, mas “não faria de novo”. “Eu não me excedi, eu brinquei talvez fora de hora, mas não me excedi. Se você perguntar: Você faria de novo?. Não. Mas está arrependido? Não, porque eu não ofendi. Eu passei seis horas e dez minutos tratando-a com decência, como merece toda mulher”, alegou o parlamentar.
A primeira-dama Janja da Silva se solidarizou com Marina Silva. “Uma mulher gigante, que um homem com a ignorância do senador Plínio Valério jamais vai conseguir enxergar. Sua fala carregada de ódio, misoginia e de um desconhecimento sem tamanho é um reflexo de sua pequenez. É esse comportamento masculino que mata nossas mulheres diariamente”, disse Janja.
“Se para ele é difícil ouvir uma mulher tão inteligente falar durante seis horas, para nós é de doer ouvir seis segundos de asneiras vindos de sua boca”, emendou a primeira-dama.
A senadora Leila Barros (PDT-DF), disse que não importa a cor ou a classe social, todo homem precisa se responsabilizar pelo que diz e faz. “Mulheres merecem respeito. Todos os dias, 13 mulheres sofrem algum tipo de violência no nosso país. Uma piada ou um comentário machista ajudam a manter esse problema vivo”, destacou o parlamentar.
Leandro Grass, presidente do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), afirmou que espera que o senador Plínio seja responsabilizado. “Alguns parlamentares precisam entender que imunidade não significa liberdade para cometer crimes. Passou da hora de dar um basta nisso”, citou Grass.
Veja a íntegra da nota da Procuradora Especial da Mulher no Senado Federal:
““Como Procuradora Especial da Mulher do Senado, mãe e avó, declaro meu repúdio ao comportamento do senador Plínio Valério, que afirmou, ainda por cima rindo, que queria enforcar a ministra do Meio Ambiente Marina Silva.
Um pedido honesto e público de desculpas, que o parlamentar recusa-se a fazer de forma espontânea, seria o mínimo que ele deveria dirigir à ministra ofendida e a todas as mulheres brasileiras, inclusive às da própria família dele.
Sem entrar no mérito da oposição política que o parlamentar do Estado do Amazonas faz a uma representante do Estado brasileiro que tem realizado efetivo combate ao desmatamento e a outros crimes ambientais na região, considero gravíssimo ver um membro do Parlamento nacional cometendo explícito ato de violência de gênero contra uma mulher.
O país viu um senador homem fazendo, em tom de deboche ou não, uma ameaça física contra a vida de uma ministra de Estado. Sabemos que o exemplo vem de cima e o que isso causou de tragédias ao país. Enforcar significa matar.
As credenciais da ministra Marina, autoridade mundial em sustentabilidade, defesa dos recursos naturais e mudanças climáticas, nem precisariam ser elencadas, porque toda violência contra toda mulher tem que ser evitada, combatida e, sim, punida. Toda a minha solidariedade à ministra Marina Silva. Se o senador agrediu uma ministra, agrediu também a todas nós parlamentares e a todas as brasileiras. Todas nós somos Marina”.
*Com informações do Correio Brasiliense